Mostrar mensagens com a etiqueta o aroma do tempo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta o aroma do tempo. Mostrar todas as mensagens

23/02/2024

É um juízo de valor e outro processo de intenção, sim, senhores

Faz dois dias repliquei parte do que li no L’Opinion sobre as actuais dificuldades da indústria automóvel europeia e a apreensão com o futuro. Temor, exclusivamente concorrencial, face ao desempenho da indústria homóloga chinesa que irrompe à luz do dia com preços, dizem-nos, 30% inferior, e a óbvia incapacidade europeia para os emular. Repliquei o facto - e é este o desafio!
Hoje, o Diário de Notícias pespega na capa *

04/02/2024

Do Apeirógono (III) - 'Prémio' para partidos com mais votos em mulheres e negros

Regulamentação foi criada para estimular competitividade das candidaturas; mudança pune PSD, PSDB e PL e beneficia PSOL e PcdoB



Criada para estimular mais candidaturas competitivas de mulheres e negros nas eleições, a regra prevê contagem dobrada votos nesses candidatos para fins de distribuição de verba pública dos fundos eleitoral e partidário em 2024.

O Censo 2022 - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - mostra que 55,5% da população se identifica «preta» ou «parda» e 51,5% são mulheres.


Do apeirógono (II) - ¿Podemos confiar en los expertos?

«La pretensión de tener buen ojo para la pintura plantea dos grandes interrogantes. En primer lugar, ¿cómo se aprende esta habilidad? Y, en segundo lugar, ¿hasta qué punto son fiables las conclusiones? Aunque los mejores expertos emiten sus juicios en un instante, se basan en largos años de experiencia. Del mismo modo que los críticos literarios realizan una ‘lectura minuciosa’, los entendidos practican la ‘observación minuciosa’ de los cuadros durante horas, todos los días»

MI proyecto actual consiste en escribir una historia del oficio de los expertos, es decir, la práctica de juzgar obras de arte, especialmente pinturas, evaluar su calidad, atribuir estas obras (a menudo no firmadas) a un artista determinado y diferenciar un original de una copia (incluidas las falsificaciones). Estoy escribiendo esta historia desde el punto de vista de un historiador del conocimiento; será mi séptimo libro sobre el tema, cada uno examinando el conocimiento desde un ángulo diferente. Se centrará en Occidente desde el Renacimiento hasta la actualidad, sin dar por sentado que este arte de juzgar sea exclusivamente occidental (los expertos ya ejercían en China hace bastante más de mil años) o que surgiera de repente en torno a 1500. Al igual que muchas otras prácticas, es probable que esta existiera antes de que fuera documentada. En el siglo XVIII, la aparición de los grabados permitió a los expertos comparar obras dispersas por museos de distintas partes de Europa. En el siglo XIX, la fotografía hizo lo propio. En el siglo XX, la dendrocronología ayudó a datar las pinturas sobre tabla. Hoy en día, la inteligencia artificial ha empezado a utilizarse para la atribución, comparando las pinceladas de un cuadro determinado con las pinceladas típicas de un pintor concreto en el banco de datos de la máquina

Do Apeirógono (I) - The end of the social network

A new set-up for social media is solving some problems — and creating others

FACEBOOK MAY be turning 20 on February 4th, but it is just as much of a magnet for controversy and cash today as when it was a brash, break-everything teenager. On January 31st Mark Zuckerberg, the social network’s founder, was harangued by American senators over the spread of harmful material.
The next day, as we published this, he was poised to announce another set of glittering results for Meta, Facebook’s parent company, which is now valued at $1trn. Yet even as social media reliably draw vast amounts of attention from addicts and critics alike, they are undergoing a profound but little-noticed transformation. The weird magic of online social networks was to combine personal interactions with mass communication. Now this amalgam is splitting in two again. Status updates from friends have given way to videos from strangers that resembles a hyperactive tV. Public posting is increasingly migrating to closed groups, rather like email. What Mr Zuckerberg calls the digital “town square” is being rebuilt — and posing problems.This matters, because social media are how people experience the internet. Facebook itself counts more than 3bn users. Social apps take up nearly half of mobile screen time, which in turn consumes more than a quarter of waking hours. They gobble up 40% more time than they did in 2020, as the world has gone online. As well as being fun, social media are the crucible of online debate and a catapult for political campaigns. In a year when half the world heads to the polls, politicians from Donald Trump to Narendra Modi will be busy online.The striking feature of the new social media is that they are no longer very social. Inspired by TikTok, apps like Facebook increasingly serve a diet of clips selected by artificial intelligence according to a user’s viewing behaviour, not their social connections. Meanwhile, people are posting less. The share of Americans who say they enjoy documenting their life online has fallen from 40% to 28% since 2020. Debate is moving to closed platforms, such as WhatsApp and Telegram.The lights have gone out in the town square. Social media have always been opaque, since every feed is different. But TikTok, a Chinese-owned video phenomenon, is a black box to researchers. Twitter, rebranded as X, has published some of its code but tightened access to data about which tweets are seen. Private messaging groups are often fully encrypted.Some of the consequences of this are welcome. Political campaigners say they have to tone down their messages to win over private groups. A provocative post that attracts “likes” in the X bear pit may alienate the school parents’ WhatsApp group.

Do apeirógono - Portrait d’une révolte anti-européiste

Il n’était pas faux de voir dans le mouvement des agriculteurs un mouvement social européen, comme on l’a souvent entendu, mais il fallait surtout y reconnaître une révolte antieuropéiste généralisée. Les événements sont venus confirmer cette impression : c’est à Bruxelles que le gouvernement français a dû se rendre pour négocier des concessions pour ses agriculteurs, comme s’il n’était plus qu’un syndicat des intérêts nationaux dans le cadre européen, sur lequel il fallait faire pression. Le vrai pouvoir, pour une fois, s’exposait, et s’exposait même fièrement, surplombant les peuples, les nations, les États.
Il faut toutefois définir correctement l’européisme. L’européisme n’est pas la civilisation européenne, ni même la construction européenne, mais une idéologie empruntant à l’europe son nom tout en ayant peu à voir avec elle. L’européisme est d’abord un intégrationnisme continental sans fin, dans la mesure où la construction européenne ne doit jamais cesser, et s’étendre sans cesse, comme en témoigne la tentation toujours renaissante d’y associer de nouveaux États, comme en témoigne aussi le désir de multiplier les accords de libre-échange à la grandeur du monde, l’européisme semblant ici se confondre avec un mondialisme ne disant pas son nom, comme en témoigne aussi son immigrationnisme forcené. L’UE se présente comme le moteur de l’unification mondiale et doit broyer les nations particulières qui ne consentent pas à s’y dissoudre – elles sont alors accusées de verser dans l’égoïsme national. Elles ne trouveront une certaine grandeur morale qu’en abdiquant leur souveraineté – généralement en renonçant à la règle de l’unanimité au niveau communautaire.

20/01/2024

De que país(es) nos falam eles?

[Nota prévia: solicito e agradeço que o post seja lido com a indulgência e condescendência com que lêem outros de sensibilidade e conclusões diferentes ou opostas. Das gravuras anexas cada qual que tire as suas conclusões - eu desobrigo-me.]
Falam-nos de algo que, na realidade, não existe. E se por acaso aludem à necessidade do restabelecimento de uma pequena série de valores que, para as gerações nascidas no dealbar do séc. XXI, representam «zero»; para os próprios são o ramerrame. Teoricamente podiam abster-se de as fazerem, mas, de facto é-lhes impossível não as fazer. Além do mais há que reconhecer(-lhes) a óbvia desorientação e impotência perante o manancial de solicitações e exigências de toda a ordem e natureza mercê da comum deficiência de 'envergadura' na compreensão, pior, na antecipação das tremendas dinâmicas em relação às quais são em rigôr alheios. No seio destas obviedades há uma outra, vital, e que simplificando resumiria assim: constatada a falência da vontade e a ausência de empenho opta-se pela sacramental ou melhor, a oportunista inércia dos condenados. Depois o desespero leva-os a decisões (ou intenções) ridículas. Com que olhos se pode apreciar a decisão de Macron em pôr as crianças e pré-adolescentes, de ora em diante, nas escolas, a cantar «A Marselhesa»? Quem simultaneamente anda mundo afora rogando compreensão e perdão dos 'desmandos' franceses! Mas como fizeram eles este caminho? Quem acolheu Khomeini? Onde se refugiou o ‘imperador’ Bokassa? [Toca pois a receber os agradecimentos] Quem ao mesmo tempo propõe e dá respaldo a decisões na UE de uniformização, globalizantes! (desconsiderando que o contrário, os nacionalismos, já são aparentemente infactíveis)
A zona que se interpõe entre a mentira de tudo e a verdade iluminada de nós próprios é um baldio para os outros, e no qual se constrói a «psicologia das multidões»”
Vergílio Ferreira
2024 é um ano comemorativo. Desejam que seja jubilatório, mas falharão; farão o necessário para que seja liturgicamente impressivo, mas não será. As salmodias serão retrospectivamente dionisíacas e prospectivamente miríficas. As rábulas serão compósitas, e as plateias mandam. O dogma é «Os intrépidos, abnegados democratas resgataram-nos daquele portal do Inferno em que estávamos atolados»
A lírica, a prosápia sobre o decurso democrático de cinco décadas conterá tudo o que seja necessário por forma a esconder ou dissimular o contínuo cortejo de falhanços arrebatamentos (pelo povo), utopias (para o povo), descaramentos (com o povo), indecências (legitimadas pelo povo) e de poucas-vergonhas considerando os ciclícos escarcéus políticos, as consabidas e inúmeras vidas de pirata e não poucos de autêntico gangsterismo que vicejaram a coberto ou dentro dos partidos, o corropio à roda da mesa do orçamento, a contumácia e as múltiplas acções de pilhagem com cobertura política, etc
A pergunta não é retórica. Existem, em Portugal e na Europa, uma multiplicidade de dados que há uma década podiam ser considerados sinais inquietantes, mas presentemente são evidências alarmantes. Ainda assim depreciadas. Dessas cinjo-me aos demográficos pelo que representam na paleta de mudanças societais e que, pela sua natureza, contêm dinâmicas irrefreáveis e ainda menos reprimíveis. A Europa, sempre, por razões conjunturais e de curto prazo, manteve fechadas as várias janelas de oportunidade que se lhes depararam. Foram desvalorizados por meras conveniências políticas E sempre por tacticismo. Foram sub-valorizados, retorcidos e moldados de uma forma ideologicamente o mais coerente possível por uma parte avassaladora da academia e da presumida ‘intelectualidade’. E quem fosse dissonante, os menos volúveis, era/é de imediato submerso por um chorrilho de adjectivos pouco edificantes e substantivos «com forte marca» e, popularmente ― os psitacídeos não aprendem línguas, repetem vocábulos! ―, por impropérios.
"Há uma distância infinita entre a aparição da verdade, a imediata evidência de seja o que for, e até mesmo o seu reconhecimento; quando olhamos a evidência pela segunda vez já ela está alinhada, classificada, endurecida entre as coisas que nos cercam. Eis porque ignoramos ou esquecemos depressa a face do que há de estranho nos factos mais banais."
Vergílio Ferreira









10/12/2023

Woke

é, a jusante, a justaposição (fatal) da abjecção esclarecida numa manta de ordinário cretinismo.

A história é fácil de contar. Na sequência do conflito no Médio-Oriente – o ataque a Israel pelo Hamas, em 7 de outubro, e a resposta israelita no «covil» – ocorreram incidentes anti-semitas e islamofóbicos — graffitis, vídeos que mostram a destruição de cartazes com fotografias dos reféns do Hamas — em várias das mais prestigiadas universidades americanas – Harvard, Philadelphia, Cornell, Columbia e Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). 
O Comité de Educação do Congresso convocou os presidentes das respectivas universidades para inquirição. Os presidentes admitiram a ocorrência de incidentes. Perguntada se o "apelo ao genocídio contra os judeus" violava as directrizes sobre bullying e assédio, a presidente de Harvard, Claudine Gay, respondeu
                                     - "Podem ser, dependendo do contexto."
E mais disse Claudine Gay:
- "... a liberdade de expressão é uma obrigação." (E é!)
Os outros presidentes expressaram opiniões semelhantes.

Fica patente que o «contexto» está confinado à homologação dada pela esquerda, lato sensu. Se assim não é então tudo - verbo e acções - o que venha da direita não-idiota, leia-se extrema-direita, está obrigatoriamente confirmado. Há muitas Constituições para rasgar. É isso?

28/10/2023

Eu quero ir à guerra

Entre nós o ridículo não mata, sequer deslustra. Que papelinho!
Perdoem-me, mas este denodo e abnegação profissional tocam-me. Ando muito susceptível.



17/07/2023

Não haverá anti-histamínico que debilite a urticária

Apreciação que subscrevo ponto por ponto com excepção da resposta, "Talvez não", à interrogação, coloquial, de cariz heurotemático. A (minha) resposta é um categórico «Não». Não, mesmo excepcionando os prosélitos da 'causa' subjacente - a globalista. Quer a que se revela acentuando o seu estrito carácter tecnocrático, quer as que sibilinamente não perdem de vista o 'meridião'/rumo ideológico. E, a esses, ainda acrescento todos os que abarrotam o saco da pusilanimidade; um mundo. Bom proveito lhes faça, e a mim não desassossegue. Nunca por nunca me compadecerei com o destino de quantos se deitam em camas por si feitas. 

P.S.: destas minhas 'cogitações' estão excluídos tudo o que, no assunto em apreço, caia na alçada do ilegal, lato sensu - entre nós ou onde fôr. Nesta matéria, a ilegalidade deve ser considerada e tratada sempre como algo na vizinhança do banditismo ou banditismo.


22/04/2023

A era do pseudoconhecimento

Looking at the impacts of the computer browser, the printing press and psychoanalysis could help prepare the world for AI

AMONG THE more sombre gifts brought by the Enlightenment was the realisation that humans might one day become extinct. The astronomical revolution of the 17th century had shown that the solar system both operated according to the highest principles of reason and contained comets which might conceivably hit the Earth. The geological record, as interpreted by the Comte de Buffon, showed massive extinctions in which species vanished forever. That set the scene for Charles Darwin to recognise such extinctions as the motor of evolution, and thus as both the force which had fashioned humans and, by implication, their possible destiny. The nascent science of thermodynamics added a cosmic dimension to the certainty of an ending; Sun, Earth and the whole shebang would eventually run down into a lifeless “heat death”.

20/04/2023

Pode-se transformar um aquário numa sopa de peixe

Quem nunca perdeu tempo com Leszlek Kolakowski, filósofo polaco, desconhecerá a «Lei da Cornucópia infinita» - assim foi 'baptizada' por ele. Ou saberá, porque lendo John Le Carré e crendo no background intelectual do autor, a dado passo, deparou-se com uma referência à dita. E o que tem isso a ver com o texto aqui editado? Tem porque 'defendeu' ele que 'há um número infinito de explicações para qualquer acontecimento, ilimitado, independentemente do tipo e/ou das circunstâncias.', ou seja, aconteça o que acontecer será explicado. E 'a cornucópia' até serve para explicar e justificar a normalidade anormal! 
À parte a verosimilhança 'da cornucópia' o certo é que há uma anedota russa que calça como luva no texto ínsito - «Sabemos que se pode transformar um aquário numa sopa de peixe. Mas a questão é: consegue-se transformar, de novo, a sopa de peixe num aquário?»


History loves unintended consequences.The latest example is particularly ironic: Russian President Vladimir Putin’s attempt to restore the Russian empire by recolonizing Ukraine has opened the door to a postimperial Europe. A Europe, that is, that no longer has any empires dominated by a single people or nation, either on land or across the seas—a situation the continent has never seen before.
Paradoxically, however, to secure this postimperial future and stand up to Russian aggression, the EU must itself take on some of the characteristics of an empire. It must have a sufficient degree of unity, central authority, and effective decision-making to defend the shared interests and values of Europeans. If every single member state has a veto over vital decisions, the union will falter, internally and externally.

Europeans are unaccustomed to looking at themselves through the lens of empire, but doing so can offer an illuminating and disturbing perspective. In fact, the EU itself has a colonial past. As the Swedish scholars Peo Hansen and Stefan Jonsson have documented, in the 1950s the original architects of what would eventually become the EU regarded member states’ African colonies as an integral part of the European project. Even as European countries prosecuted often brutal wars to defend their colonies, officials spoke glowingly of “Eurafrica,” treating the overseas possessions of countries such as France as belonging to the new European Economic Community. Portugal fought to retain control of Angola and Mozambique into the early 1970s.
The lens of empire is even more revealing when one peers through it at the large part of Europe that, during the Cold War, was behind the Iron Curtain under Soviet or Yugoslav communist rule. The Soviet Union was a continuation of the Russian empire, even though many of its leaders were not ethnic Russians. During and after World War II, it incorporated countries and territories (including the Baltic states and western Ukraine) that had not been part of the Soviet Union before 1939. At the same time, it extended its effective empire to the very center of Europe, including much of what had historically been known as central Germany, restyled as East Germany.
There was, in other words, an inner and an outer Russian empire. The key to understanding both Eastern Europe and the Soviet Union in the 1980s was to recognize that this was indeed an empire—and an empire in decay. Decolonization of the outer empire followed in uniquely swift and peaceful fashion in 1989 and 1990, but then, even more remarkably, came the disintegration of the inner empire in 1991. This was prompted, as is often the case, by disorder in the imperial center. More unusually, the final blow was delivered by the core imperial nation: Russia. Today, however, Russia is straining to regain control over some of the lands it gave up, thrusting toward the new eastern borders of the West.

GHOSTS OF EMPIRES PAST

18/03/2023

Ilustração

Vai para quarenta anos, a administração do BPSM (Banco Pinto & Sotto-Mayor) presidida pelo prestigiado tecnocrata (sem ironia) Lo
ureiro Borges decidiu unilateralmente e sem dar conhecimento aos depositantes, fazer uma necessária, e urgente, limpeza no balanço leia-se, aliviar o ‘peso’ das operações passivas umas largas dezenas de milhões de contos. O que fez? Depósitos superiores a cinquenta contos em regime de capitalização, no vencimento, não capitalizavam. Os depositantes residentes tiveram condições para reagir no sentido de minimizarem perdas, mas os depositantes emigrados não tiveram o segmento focado era mesmo este: BPSM e CGD detinham o portfolio da emigração; o BNU, o BPA e o BF&B eram pouco expressivos.
A banca ainda estava nacionalizada e, por conseguinte, equacionar a possibilidade de mexer na componente «balanço social» ou seja, chamar à mesa a direcção dos recursos humanos, por exemplo, era inimaginável. A banca nacionalizada detinha uma outra função: não contribuir para o desemprego.

16/02/2023

De mal-entendidos se faz uma imensa mistificação

A quem aproveita?

João Pedro Marques
numa conversa 'incorrecta' com o foco na escravatura, mas abordando também o 
wokismo, Joan Baez e George Orwell. Foi professor universitário e do ensino secundário e investigador do Instituto de Investigação Científica Tropical. Especialista em História da Escravatura, tem sido uma das principais vozes críticas contra o politicamente correcto em redor das questões raciais.

Existe a ideia de que foram as revoltas dos escravos que foram determinantes para a abolição da escravatura. Destaca a preponderância do movimento abolicionista na libertação dos escravos nas colónias, do papel dos ocidentais nesse processo e defende que o primeiro país a abolir a escravatura foi o actual Haiti, antigo Saint-Domingue…
Essa opinião está errada. Quer dizer, estritamente falando, está errada. Repare, o jogo aí é utilizar a palavra “país”. É isso que condiciona, deturpa e esconde o que foi a realidade. Os estados do norte dos Estados Unidos da América já estavam a abolir a escravidão. Começaram a fazê-lo na década de 70 [do século XVIII], ou seja, quase 30 anos antes de o Haiti se ter tornado independente [em 1804]. O Vermont, a Pensilvânia, Nova Iorque… A pouco e pouco, esses estados do norte dos Estados Unidos iam abolindo, de uma forma gradual, a escravidão. Mas naquilo que viria a ser o Haiti, já a França tinha abolido a escravidão. Ou seja, o primeiro país a abolir a escravidão, foi a França. Globalmente, foi a França, em 1794, em plena revolução francesa. O comissário francês que na altura estava na colónia francesa então chamada São Domingos [Saint-Domingue ], um indivíduo chamado Sonthonax, em 1803 decretou a abolição da escravidão. No ano seguinte, a Assembleia em Paris ratificou a medida do seu comissário e aboliu em todas as colónias da República Francesa. Portanto, o primeiro país a abolir a escravidão foi a França. É verdade que, adiante, no tempo de Napoleão, a medida foi revertida. Em 1802, Napoleão repôs a escravidão. E quando o Haiti se tornou independente constitucionalmente, em 1804, aboliu definitivamente a escravidão nessa região. Mas, como vê, a história é mais complexa do que essa visão taxativa. De facto, os abolicionistas foram decisivos. Sem os abolicionistas, boa parte dos quais brancos, não teria havido abolição. Isto não é uma opinião exclusivamente minha. Muitas colegas historiadores defendem este ponto de vista, mas são quase todos velhos como eu, não é? Anteriores à chegada do wokismo.

03/02/2023

Rede de covis

O destaque é devido às dimensões do mastodonte mais do que por existir alguma singularidade. E isto enquanto a 'complexidade' da rede fôr a existente. Haverá mais, muito mais, quando o nível de complexidade fôr incrementado com a regionalização. O municipalismo enquanto ideologia e prática político-administrativa falha, há décadas, como falham quaisquer 'instrumentos' independentemente da sua natureza e fim pelo uso que lhes é dado, mas empiricamente percebe-se como não foi díficil transformá-lo numa quase-perfeita (as excepções substantivam o «quase») 'rede' de covis.



03/09/2022

Da estultificação em curso


         EE.UU. vive una era de cambios rápidos que desordena los campos establecidos sin producir nada nuevo. Goldberg comenta un libro que explica cómo la evolución cultural se vincula allí con el deseo de ascender en la escala social.

                Michelle Goldberg, ensayista y columnist/New York Times - 3 September 2022

En mayo, el crítico literario Christian Lorentzen publicó en la plataforma Substack un boletín sobre el aburrimiento.
Las películas de Hollywood son aburridas. La televisión es aburrida. La música pop es aburrida. El mundo del arte es aburrido. Broadway es aburrido. Los libros de las grandes editoriales son aburridos”, escribió.
Como yo también me he aburrido bastante, pagué cinco dólares para leer el artículo completo, pero no me convenció su conclusión, que atribuye la culpa del estancamiento artístico a la primacía del marketing. La aversión al riesgo de los conglomerados culturales no puede explicar por qué no surgen más cosas independientes interesantes. Yo tenía la esperanza de que, cuando el agujero negro de la presidencia de Donald Trump terminara, la energía redirigida permitiera un florecimiento cultural. Hasta ahora, eso no ha sucedido.
Una advertencia obvia: soy una madre blanca de mediana edad, así que cualquier cosa que sea verdaderamente genial ocurre, por definición, fuera de mi ámbito. Sin embargo, cuando voy a cafés donde hay gente joven, la música suele ser la misma que yo escuchaba cuando era joven o música que suena igual. Uno de los singles más exitosos del año es una canción de Kate Bush que salió en 1985. No se me ocurre ninguna novela o película reciente que haya provocado un debate apasionado. Las discusiones públicas sobre el arte – sobre la apropiación y la ofensa, por lo general – se han vuelto tediosas y repetitivas, casi mecánicas.
Los artículos escritos sobre la microescena levemente transgresora de Manhattan conocida como Dimes Square son en sí mismos una prueba de la sequía cultural; los cronistas del zeitgeist están desesperados por encontrar nuevo material.
    (Yo misma soy culpable de haber escrito un artículo de ese tipo.)
Mucha gente está buscando algo vivaz y nuevo y no lo encuentra.
La mejor explicación que he leído sobre nuestro actual malestar cultural aparece al final del libro de W. David Marx, Status and Culture: How Our Desire for Social Rank Creates Taste, Identity, Art, Fashion, and Constant Change (Estatus y cultura: Cómo nuestro deseo de nivel social crea el gusto, la identidad, el arte, la moda y el cambio constante), un libro que no es nada aburrido y que modificó sutilmente mi forma de ver el mundo.

29/06/2022

Deixai o Mouzinho da Silveira em paz!

Em breve celebraremos meio-século do fim do
Estado Novo e de vida da Democracia. Não é tempo de vida bastante para que a sociedade se deixe de apontar as falhas do dito e trate de levantar as falências de toda a índole que democraticamente granjeou e obteve? Por uma razão simples: é que, à excepção de quantos se dedicam à História, já está vencido o prazo de validade para avocações de 1 - triste «orfandade» e menos ‘direito’ haverá quando 2 - os actores mencionados foram tão desprezíveis e fizeram tanto mal.
É pulhice, mesmo que seja obliterado tudo o que respeite à contextualização — a não ser que se use Ortega y Gasset, somente para os efeitos convenientes, como cliché ou seja, para compor um medíocre florilégio retórico —, alguém ridicularizar Américo Tomás tendo como contraponto Marcelo Rebelo de Sousa; ou caçoar de Marcelo Caetano contrapondo-o a Pinto Balsemão, António Costa ou, pior, a José Sócrates; ou escarnecer de Duarte Pacheco tendo como contraponto Pedro Marques, António Mendonça ou, pior, Pedro Nuno Santos.

04/04/2022

Anatomia da comoção

Se qualquer um tem o direito a expor o ‘trauma’, acho-me no dever de dizer ‒ e qual ‒ a minha repugnância.
                                                                                     ~ • ~ 
As fotografias não são do Afeganistão, do Iraque ao tempo do Estado islâmico, nem de Srebrenica na Bósnia-Herzegovina. De onde nos chegam todos sabemos.
Aquelas não reverberaram por aí além no seio dos ‘civilizados’ porque, enfim, eram as incisões da temeridade de boçais amestrados, retratos de actos praticados por selvagens e, se há ‘coisa’ que os ‘civilizados’ possuem, é a exacta medida para não alimentar falsas expectativas ‒ ou seja, a boa expectativa é, cedo ou tarde, o pior; estas (pelo que ouço/leio) deixam um profundo sulco de repulsa nos ‘civilizados’.
Estão chocados, não há bicho-careta que não se diga chocado.
Ora o ‘choque’, que aquelas me causaram e me causam estas, é semelhante – não é igual porque jamais usei óculos cor-de-rosa e, como escreveu Vergílio Ferreira (1945), “com óculos cor-de-rosa só se vê o mundo cor-de-rosa enquanto dura a lembrança do outro do que o não era; ao fim de pouco tempo com óculos cor-de-rosa, a cor-de-rosa não existe”.
Digo que o meu choque ‒ no meio de tanta indignação e choque ‒ não faz oscilar, em um mícron, a agulha do sismógrafo. Mas o refinamento da manha, a cobardia dissimulada, a perfídia e a nequícia, …tudo o que compõe este «quantificador universal», leia-se, o mais requintado farisaísmo e a mais acrisolada hipocrisia, agora mais do que sempre, causa-me uma apreciável sucussão. 
                                                                                     ~ • ~
No dia em que o cúmulo dos ‘choques’, consequentes indignações e traumas ‒ políticos ou não, institucionais ou quaisquer outros, de Vladivostok a Santiago do Chile, de Cape Town a Rovaniemi ‒ conseguirem levar Vladimir Putin e os verdugos a sentarem-se no ‘banco’ para serem sentenciados, à semelhança de Milosevic e Mladic, eu retrato-me.


 

                      

 

03/08/2021

Uma 'coisa' leva à outra (2)

É uma, de duas, das 'coisas' que os socialistas melhor sabem fazer.
A primeira é procrastinar; a  segunda - em dois 'momentos' - é:
       . no primeiro 'momento' atiram dinheiro sobre os assuntos;
       . no segundo 'momento' provisionam as contas pela via fiscal.



12/12/2020

Está perto de perdoar, quem lágrimas escuta

O ‘institucionalizado’ histrião da IIIª República, Manuel Alegre, sugeriu «mais poesia» como forma de esconjuro por um lado e, por outro, de revigoramento colectivo. Ora, a ministra ‒ quando necessitávamos de a saber, num acto de rebeldia e afronta ao obstáculo, a cantarolar o hino da CGTP ‒ chorou. Fruto da paixão, decerto ‒ supondo (como eu suponho) que ‘paixão significa sofrimento’ (1) . Cedeu ao sofrimento! A suposta (e presumida) amazona é uma fraude ‒ é uma temerosa ‘boneca’. Não sendo isso (é precisamente o que penso) a lagriminha, o plangor da ministra é ‘coisa’ circunscrita entre duas baias
a) a determinada por Fernando Pessoa — a Martinha ‘finge a dor que deveras sente’ —, e,  
b) a prescrita por Boris Vian ‘(…) tomam chá de algas e álcoois doces que os dispensa de pensar (…) mistura-se um pouco de ideias com um pouco de supérfluo, e dilui-se. As pessoas absorvem estas coisas mais facilmente; as mulheres, sobretudo, não gostam do que é puro.”

 (1) Denis de Rougemont

                    * • *

Para mim é tão óbvio que vale mais um módico desta ‘ronha’ do que uma biblioteca de fátuos tratados como é óbvio que o derradeiro recurso dos medíocres e dos pulhas é a apelação à pieguice.
Para mim também é claro que contam sempre com quem nunca aprenderá o que seja porque a sua existência (com ou sem network) se circunscreve (quaisquer que sejam as circunstâncias) à satisfação das suas necessidades básicas e primárias. Sobre estes discreteou Eduardo Galeano
— ‘Os ignorantes não fazem história ‒ acolhem-na; são o coro do herói.’
“São suspeitas as lágrimas dos ratos nos enterros dos gatos.”