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09/06/2023

Um sensato 'discurso'

"Tinha de me pronunciar sobre o pêndulo e sobre o sino: escolhi sobretudo o som"
Victor Segalen

sobre um encantamento e das criaturas que, através de um mecanismo curioso (Marcel Couche, Orientation philosophique, 1990), "graças à ausência de resposta, para tudo têm resposta" e também, a talho de foice, do risco de  tão grande e desconcertante é a facilidade com se busca e pretende impôr um 'ideal'  desembocar no contrário.

29/05/2023

Evolução

Será, ou não. Para uns é evolução, para outros é retrocesso e, para outros ainda – denominem a ‘coisa’ como quiserem - não é evolução nem retrocesso é, por mais dilatado que seja o tempo, um ‘momento’ inercial. E a inércia, para qualquer físico como para qualquer sociólogo, politólogo, … , é uma resultante dinâmica. Se, como um dia constatarão, tiver sido um retrocesso ainda assim é, para a maioria de nós, evolução. O império romano do Ocidente também evoluiu para Oriente, depois embrenhou-se, dissolvendo-se, nas ‘trevas’ da Idade Média, e daí não veio grande mal ao mundo com excepção de quantos perfizeram o insuficiente número para conseguir travar ou inverter aquela ‘dinâmica’ evolutiva. 
Tudo se resume à perspectiva, ao ponto de vista. A deles e a nossa.
Ora de lamentos e deplorações estão os nossos dias cheios — digo eu, que o que mais lamento foi a minha incompetência ou carência de aptidões, e inteligência bastante para as adquirir, na apreensão das qualidades capacitadoras a fazer de mim um cínico capaz, um encartado jansenista, …
“Burro velho nâo aprende letras”, reza o rifão, falso/enganador.
De que ‘letras’ falamos? Ai aprende, aprende...





01/04/2023

'Minhocas para os gorgomilos de um bando de azêmolas' *

Da brigada opinante que opera na comunicação social um dos que ainda ouço é José Miguel Júdice. Dos restantes ‒ do Marques Mendes ao Paulo Portas … já se me turva a ideia das respectivas fisionomias e de ‘mesas redondas’ com Oliveiras, Lopes, Claras, fujo.
Esta semana, Júdice sugeriu a leitura de «Correspondência – Eduardo Lourenço, Jorge de Sena», sem esboçar a mínima justificação instigadora: desconheço se por falta de tempo. Facto é que merece ser lido na minha perspectiva porque o que mais tem havido, anos e anos a fio, é especialistas a sacar de E.L. para armar ao pingarelho e a divagar de forma absolutamente tortuosa e, sem acaso, a tortuosidade é constituída por uma resma de omissões inconvenientes aos predicatórios; ou seja, para que aqueles que emprenham pelos ouvidos, a maioria, permaneçam numa ignara existência sem lhes tolher os caminhos para a beberragem do fino.
Como escreveu Lourenço, citando Göethe, “o povo que efectivamente trabalha e para quem a maioria das revoluções, que se fazem em seu nome, não significam mais que a possibilidade de mudar de ombro para suportar a costumada canga” ou “não trabalhar foi sempre, em Portugal, sinal de nobreza” ou “os portugueses vivem em permanente representação, tão obsessivo é neles o sentimento de fragilidade (…), e a correspondente vontade de a compensar com o desejo de fazer boa figura”, etc … são (algumas das) proposições, postulados, sistematicamente ‘obliterados’ por parte da mestrança panegirista. Mas melhor, mais útil, esclarecedor, são as considerações de toda a ordem sobre ‘os inconvertíveis e liliputianos coríntios da nossa comum e irredenta cultura’ (1982).
Nutria, pela maioria deles, um respeito intelectual e uma consideração pessoal notáveis.
Da caneta de Jorge de Sena, mais impetuoso, é um fartote.

* "(...) a cambada está a ganhar, Não vale a pena, Portugal é daquilo, e as gerações sucedem-se cada uma mais canalha que a outra" - Jorge de Sena, 1972

23/03/2023

Uma determinada 'cartografia'. Mas ...

os aromas do tempo que corre, dizem-nos que cada qual usa a geodésia a seu bel-prazer e de acordo com a(s) 'ciência'(s) por si validada(s). Chega-se a isto quando se dá conta que 1. cada homem determina por si próprio o tipo de pensamento que quer ter e 2. quem anda à nossa volta não tem interesse em ser desenganado.
                                                                       Ø
En francés (y en otros idiomas, como el mío, el esloveno) para designar el “futuro” existen dos palabras que no pueden traducirse adecuadamente en algunas lenguas: futur y avenir. Futur designa el futuro como la continuación del presente, mientras que avenir es una discontinuidad con el presente: lo que está por venir (à venir), no solo lo que será. Si Trump estuviese por derrotar a Biden en las elecciones de 2020, hubiera sido (antes de las elecciones) el futuro presidente, pero no el presidente por venir.

El pasado está abierto a reinterpretaciones retroactivas, mientras que el futuro está cerrado, ya que vivimos en un universo determinista. Esto no significa que no podamos cambiar el futuro; solo significa que, para cambiar nuestro futuro, primero deberíamos (no “entender”, sino) cambiar nuestro pasado, reinterpretarlo de manera que se abra hacia un futuro diferente del que implica la visión predominante del pasado. ¿Habrá una nueva guerra mundial? La respuesta puede únicamente ser paradójica: SI fuera a haber una nueva guerra, será una guerra necesaria: “si tiene lugar un acontecimiento excepcional, una catástrofe, por ejemplo, no podría no haber tenido lugar; sin embargo, en tanto no tuvo lugar, no es inevitable. Es, pues, la concreción del acontecimiento – el hecho de que se produzca – lo que crea retroactivamente su necesidad”. Una vez que estalle el conflicto militar a pleno (entre EE.UU. e Irán, entre China y Taiwán, entre Rusia y la OTAN...), aparecerá como necesario, es decir, leeremos automáticamente el pasado que condujo a eso como una serie de causas que necesariamente provocaron el estallido. Si no se produce, lo leeremos como leemos hoy la Guerra Fría: como una serie de momentos peligrosos en los que la catástrofe se evitó porque ambas partes eran conscientes de las consecuencias mortales de un conflicto mundial.

11/03/2023

Todas as construções humanas são combinatórias

"Foi com horror que descobrimos que a quantidade de pessoas é mais decisiva do que a qualidade das verdades. (...) O meu problema não é aperfeiçoar a minha consciência, mas saber até que ponto a minha consciência é minha."  *

El enunciado de esta intervención, Los sujetos de la historia, es demasiado amplio y, por tanto, poco preciso. Podría entenderse, por ejemplo, que quiero hoy hablar de quienes han protagonizado, o simplemente vivido, los hechos ocurridos en el pasado humano. Y no es así. Quiero referirme a los protagonistas de la historia como relato o visión sobre ese pasado, como parcela del conocimiento heredada por nosotros tras ser elaborada por sucesivas generaciones de historiadores o memorialistas.

Así entendida, como narración, la historia ha cambiado mucho a lo largo del tiempo. Y yo quisiera referirme ahora a la evolución de sus actores o protagonistas a lo largo de las últimas décadas, incluso, a grandes rasgos, hasta casi a todo el último siglo.
Una evolución vinculada, según creo, al cambio intelectual global vivido por mi generación, cuyo ciclo vital no se halla ya tan lejos del siglo, y tienen ante ustedes un ejemplo de ello.
Al comenzar aquel recorrido, la visión del pasado que se nos enseñaba a los niños de mi época se veía dominada por grandes sujetos, individuales o colectivos, a los que se nos presentaba con rasgos heroicos. A veces eran naciones, o pueblos, grupos humanos idealizados que actuaban de manera unánime, movidos por un ideal común. Otras, se trataba de individuos, personajes, los fundadores de la comunidad, los padres de la patria, rodeados de un aura religiosa e insertos en una visión providencial del mundo. En el origen de los tiempos, aquellos héroes, unidos o enfrentados entre sí, protegidos o perseguidos por los dioses, instrumentos suyos o rebeldes contra su poder, habrían luchado (a muerte, por supuesto) y forjado el mundo tal como es hoy: violento, jerarquizado, infeliz. Nosotros no podíamos soñar con cambiarlo ni aspirar a entrar en la esfera de los héroes. Lo que debíamos hacer era memorizar sus hazañas y recitarlas.

16/02/2023

De mal-entendidos se faz uma imensa mistificação

A quem aproveita?

João Pedro Marques
numa conversa 'incorrecta' com o foco na escravatura, mas abordando também o 
wokismo, Joan Baez e George Orwell. Foi professor universitário e do ensino secundário e investigador do Instituto de Investigação Científica Tropical. Especialista em História da Escravatura, tem sido uma das principais vozes críticas contra o politicamente correcto em redor das questões raciais.

Existe a ideia de que foram as revoltas dos escravos que foram determinantes para a abolição da escravatura. Destaca a preponderância do movimento abolicionista na libertação dos escravos nas colónias, do papel dos ocidentais nesse processo e defende que o primeiro país a abolir a escravatura foi o actual Haiti, antigo Saint-Domingue…
Essa opinião está errada. Quer dizer, estritamente falando, está errada. Repare, o jogo aí é utilizar a palavra “país”. É isso que condiciona, deturpa e esconde o que foi a realidade. Os estados do norte dos Estados Unidos da América já estavam a abolir a escravidão. Começaram a fazê-lo na década de 70 [do século XVIII], ou seja, quase 30 anos antes de o Haiti se ter tornado independente [em 1804]. O Vermont, a Pensilvânia, Nova Iorque… A pouco e pouco, esses estados do norte dos Estados Unidos iam abolindo, de uma forma gradual, a escravidão. Mas naquilo que viria a ser o Haiti, já a França tinha abolido a escravidão. Ou seja, o primeiro país a abolir a escravidão, foi a França. Globalmente, foi a França, em 1794, em plena revolução francesa. O comissário francês que na altura estava na colónia francesa então chamada São Domingos [Saint-Domingue ], um indivíduo chamado Sonthonax, em 1803 decretou a abolição da escravidão. No ano seguinte, a Assembleia em Paris ratificou a medida do seu comissário e aboliu em todas as colónias da República Francesa. Portanto, o primeiro país a abolir a escravidão foi a França. É verdade que, adiante, no tempo de Napoleão, a medida foi revertida. Em 1802, Napoleão repôs a escravidão. E quando o Haiti se tornou independente constitucionalmente, em 1804, aboliu definitivamente a escravidão nessa região. Mas, como vê, a história é mais complexa do que essa visão taxativa. De facto, os abolicionistas foram decisivos. Sem os abolicionistas, boa parte dos quais brancos, não teria havido abolição. Isto não é uma opinião exclusivamente minha. Muitas colegas historiadores defendem este ponto de vista, mas são quase todos velhos como eu, não é? Anteriores à chegada do wokismo.

03/09/2022

Da estultificação em curso


         EE.UU. vive una era de cambios rápidos que desordena los campos establecidos sin producir nada nuevo. Goldberg comenta un libro que explica cómo la evolución cultural se vincula allí con el deseo de ascender en la escala social.

                Michelle Goldberg, ensayista y columnist/New York Times - 3 September 2022

En mayo, el crítico literario Christian Lorentzen publicó en la plataforma Substack un boletín sobre el aburrimiento.
Las películas de Hollywood son aburridas. La televisión es aburrida. La música pop es aburrida. El mundo del arte es aburrido. Broadway es aburrido. Los libros de las grandes editoriales son aburridos”, escribió.
Como yo también me he aburrido bastante, pagué cinco dólares para leer el artículo completo, pero no me convenció su conclusión, que atribuye la culpa del estancamiento artístico a la primacía del marketing. La aversión al riesgo de los conglomerados culturales no puede explicar por qué no surgen más cosas independientes interesantes. Yo tenía la esperanza de que, cuando el agujero negro de la presidencia de Donald Trump terminara, la energía redirigida permitiera un florecimiento cultural. Hasta ahora, eso no ha sucedido.
Una advertencia obvia: soy una madre blanca de mediana edad, así que cualquier cosa que sea verdaderamente genial ocurre, por definición, fuera de mi ámbito. Sin embargo, cuando voy a cafés donde hay gente joven, la música suele ser la misma que yo escuchaba cuando era joven o música que suena igual. Uno de los singles más exitosos del año es una canción de Kate Bush que salió en 1985. No se me ocurre ninguna novela o película reciente que haya provocado un debate apasionado. Las discusiones públicas sobre el arte – sobre la apropiación y la ofensa, por lo general – se han vuelto tediosas y repetitivas, casi mecánicas.
Los artículos escritos sobre la microescena levemente transgresora de Manhattan conocida como Dimes Square son en sí mismos una prueba de la sequía cultural; los cronistas del zeitgeist están desesperados por encontrar nuevo material.
    (Yo misma soy culpable de haber escrito un artículo de ese tipo.)
Mucha gente está buscando algo vivaz y nuevo y no lo encuentra.
La mejor explicación que he leído sobre nuestro actual malestar cultural aparece al final del libro de W. David Marx, Status and Culture: How Our Desire for Social Rank Creates Taste, Identity, Art, Fashion, and Constant Change (Estatus y cultura: Cómo nuestro deseo de nivel social crea el gusto, la identidad, el arte, la moda y el cambio constante), un libro que no es nada aburrido y que modificó sutilmente mi forma de ver el mundo.

29/07/2022

O encandeamento

Lúcio Séneca, na 85ª carta a Lucílio, escreveu - "(...) os defeitos da alma não são susceptíveis de moderação; é mais fácil erradicá-los do que controlá-los.". E 'relata' Chuang Tse, três séculos antes, que Confúcio terá dito ao seu discípulo preferido, Yen Roi - "A virtude é dissipada pela fama e o conhecimento emerge da competição. A fama é o atropelo de uns pelos outros; o conhecimento é o instrumento para competir."

05/06/2022

Llosa

sobre um livro alheio e, de passagem, umas notas sobre um dos maiores pulhas do séc.XX

10/04/2022

Da incompatibilidade entre lirismo e política

Descobriram que a senhora ― ou a senhora ‘descobriu-se’ ― faz parte do plenário da academia de Nuremberga, é jurista do Tribunal Penal Internacional – uma, entre 900 juristas provenientes de 100 Estados ‒ e imagine-se é tão, mas tão importante, que, de há semana e meia para cá não houve dia em que a senhora, a propósito da invasão da Ucrânia e do rasto de atrocidades que o banditismo fardado vai cometendo, não faça jus à notoriedade ignorada pelo público até ao presente.
Nestes termos nada contra com a sra. dra. do TPI e da academia de Nuremberga como com o Araújo Pereira, o Markl ou o Vasquinho Palmeirim. Emborca quem quer: porque sim ou porque gosta.
A questão é que Ricardo AP, Markl e o Vasquinho são pagos para fazerem de parvos, engraçados, mandar bocas, fazer de muito inteligentes e outras ‘coisas’ que tal, mas a sra. dra. Anabela Alves não existe para nada semelhante o que, no caso, equivale a sentenciar que, entre o dedo no ar e a prontidão para o «eu é que sei», devia rever muito do que profere e tomar uma boa dose de comedimento.
Sem mais delongas e porquês no fim da espremedura o que sobeja é: entre a ideia, a intenção, o desejo,… e a efectividade das ‘coisas’ há um imenso baldio que, umas vezes por isto e outras por aquilo, assim se mantém há séculos.
Quanto a apreciações fico-me pelo ínsito na gravura.
Atrevo-me a afirmar que se não forem os russos, seja lá por que meios fôr, a tratar da ‘encomenda’ em casa, nunca o TPI julgará Putin e os algozes ou, julgando-o, nunca o réu cumprirá a sentença.
Por uma imensidade de detalhes, casuísticos, e um outro imarcescível
quando os factos se dependuram no museu da História vão já despidos das manhas com que a malícia dos homens os embrulham e então, as ideologias, as ofensas, tudo aquilo com que a gente pretende negar as bestas que somos ” faz o resto.
Fiz-me entender?!


10/03/2022

As ovelhas de Panurgo

Ontem, certa comunicação social destacou as acusações de Pep Guardiola aos políticos do mundo ocidental quanto à invasão da Ucrânia; hoje num jornal e num canal de televisão são destacadas acusações de José Milhazes de semelhante índole – “a condenação da comunidade internacional à Rússia foi tardia e devia ter acontecido, em 2004, no início de uma série de acontecimentos que originaram o actual conflito”. 

Acusações ― todas e sem qualquer restrição ― que eu subscrevo. Acusações que são merecidas, não devem ser esquecidas, menos ainda poderão ser omitidas e, tombe o barco para onde tombar, jamais silenciadas. Existe, todavia, o sentido de oportunidade que, em ocasiões de grande tremideira, objectivamente servem os desígnios do inimigo. A ocasião para o ‘dedinho acusador’ não é este. Toda e qualquer brecha ― qualquer que seja a sua natureza e/ou âmbito ― é uma dádiva. É por isso que Panurgo * espera para levar a sua adiante. Neste como em quaisquer outros acontecimentos terá de haver consciência, por parte de quem profere sentenças, de que nada de essencial mudou. Até porque para se levar a elucubração ao ponto que deve ser levada a responsabilidade, depois de dever ser assacada aos políticos, não pode deixar nunca desresponsabilizar os respectivos rebanhos. No (nosso) mundo ‘livre’, as castas políticas são sufragadas livremente e ciclicamente – os próprios, os partidos que os sustentam, as propostas que fazem, …

Não é plausível que as ovelhas modifiquem a sua natureza e comportamento mas, mesmo assim, e, por mais que elas balam, não há forma de as isentar do selo de perpetradoras.

                                                                      ~ • ~

* Desconhecem?! Leiam François Rabelais. 
Panurgo, para se vingar de um desonesto vendedor de ovelhas, comprou-lhe uma e, em alto mar, atirou-a borda fora. Instintivamente o rebanho seguiu-a.

10/02/2022

E tudo porque,

sobre a ruína de tudo o resto, o que os movia era a 'memória', única, que estaria disponível no edifício. Mas, escreveu Carlo Levi, 'o futuro tem um coração muito antigo'.



10/08/2021

Uma ‘coisa’ leva à outra (3)


Ao ler a crónica de Paulo Carmona, no Jornal de Negócios ‒ Combater a pobreza, a sério ‒ não tive como não lembrar o comportamento de Baudino n’ A formiga Argentina (Italo Calvino) ― o responsável pelo «Departamento de luta contra a formiga argentina» a quem, naturalmente, toda a gente rogava ‘conselhos para se livrarem da praga daquela espécie mais impiedosa que térmitas africanas’ e que, invariavelmente, respondia ‘trabalho, muito trabalho; não há outro remédio’.

Muitas peripécias depois ficou a saber-se que Baudino 'lhes dava reconstituintes' em vez de extinguir ou controlar a praga.

12/03/2021

Germinal


        Où sont les fascistes?
          . Natacha Polony

L’homme est apparu sur les plateaux de télévision, visiblement affecté. Indigné. De son léger accent allemand, le professeur agrégé a décrit la polémique à l’Institut d’études politiques (IEP) de Grenoble, le placardage de son nom et de celui d’un de ses collègues, avec ces mots, «des fascistes dans nos amphis», les enseignants et la direction de l’IEP, bien sûr solidaires, dénonçant une «mise en danger» par ce placardage et sa di|usion sur les réseaux sociaux, mais sans jamais s’avancer sur le fond. Sans jamais affirmer clairement qu’un professeur refusant le concept d’«islamophobie d’État» et distinguant la «peur de l’islam» de la «détestation envers les musulmans», que l’on soit d’accord ou non avec cette position, n’a rien d’un fasciste.

Il est assez piquant que cet épisode arrive quelques jours après le psychodrame autour de l’«islamo-gauchisme», concept, nous l’avons écrit, vidé de sa substance par une droite et une extrême droite qui l’utilisent comme slogan et comme insulte, mais dont les étudiants de l’IEP de Grenoble ont eu visiblement à coeur de raviver la pertinence. Que des étudiants pétris de certitudes, et dont la virulence est inversement proportionnelle au recul historique, s’en prennent à des professeurs et les traitent de fascistes, ce n’est que banalité depuis Mai 68. Que les actuels étudiants des IEP soient davantage biberonnés à la pop culture américaine – et au minoritarisme sectaire qui en est le corollaire – qu’à la philosophie politique européenne est également une évidence. On serait donc tenté de balayer d’un revers de main ces éruptions consternantes. De même que Mai 68, qui était un mouvement de libération nécessaire et la source de progrès appréciables, a donné lieu à une mascarade idéologique dans laquelle des enfants de bourgeois proclamaient la gloire de Mao et aspiraient à la dictature du prolétariat avant de devenir communicant, publicitaire ou patron de presse sans que la cause des classes populaires ait avancé d’un pouce, de même les grandes proclamations prétendument antiracistes de ces «gardes rouges» intersectionnels leur permettront d’atteindre des positions dominantes sans que les «inégalités et les discriminations véritables aient le moins du monde régressé. Mais peutêtre faut-il craindre que, en arrivant au pouvoir, ces gauchistes rangés des voitures n’imposent, comme avant eux les gagnants de Mai 68, le pire de leur idéologie. Ce furent l’individualisme consumériste et la destruction de la méritocratie. Ce seront la pudibonderie autocentrée et la détestation de l’universalisme.
En attendant ces jours heureux, l’une des questions que pose cette a|aire est de savoir si un professeur doit accepter stoïquement d’être traité de fasciste au motif qu’il rappelle la dénition d’un mot, et de voir ses étudiants guetter et enregistrer ses supposés «dérapages» pour constituer un dossier contre lui. En l’occurrence, le professeur visé a prié les activistes de bien vouloir aller se faire voir ailleurs, ce qui leur a permis de crier à la discrimination syndicale.

Une autre question est de comprendre comment une enseignante peut se plaindre o ciellement de harcèlement parce qu’un de ses collègues refuse, dans des courriels longs et argumentés, de mettre sur le même plan islamophobie et antisémitisme et récuse donc une part de ses travaux. La controverse scientique relève désormais de l’«atteinte morale violente»... Une dernière question, plus essentielle, est de savoir si nous pouvons laisser tranquillement écrire et proclamer par des étudiants enivrés de leur courage antifasciste que «l’islamophobie tue». Jusqu’à preuve du contraire, ce qui a beaucoup tué en France ces dernières années, c’est une idéologie se réclamant d’un islam radical que ses adeptes veulent présenter comme le plus pur, et qui considère notre modernité européenne comme décadente et perverse. Il n’est pas question d’imaginer une seconde que «les» musulmans, ou même qu’une majorité de musulmans, adhèrent à ce délire haineux (et rien ne justie le racisme ou la haine des gens de confession musulmane – l’attentat contre la mosquée de Bayonne fut à raison unanimement condamné et reste, heureusement, une exception), mais c’est bien cette idéologie qui a massacré en masse. Pas une supposée islamophobie.

L’horreur vécue par Samuel Paty aura au moins eu la vertu de nous faire réagir assez rapidement quand certains utilisent le pilori des réseaux sociaux pour y clouer les noms des supposés islamophobes (car c’est l’accusation d’islamophobie qui tue en France et non l’islamophobie). Mais cela ne suffitt pas à nous faire prendre conscience collectivement que cet activisme, qui progresse à une vitesse vertigineuse dans les universités, qui impose sa loi dans les sciences sociales en réclamant la démission des récalcitrants, et qui gagne peu à peu les bastions des élites (les territoires enclavés et les classes populaires intéressent assez peu ces sympathiques missionnaires) nous prépare un avenir étouffant. Ces gens sont ultra-minoritaires? Hélas, comme ils ne sont pas démocrates, ça ne les empêchera nullement d’imposer leurs vues, dans le silence assourdissant de tous ceux qui préfèrent se taire plutôt que d’être à leur tour accusés. La peur est la plus sûre alliée du vrai fascisme.

01/12/2020

No decesso de Eduardo Lourenço


Mais do que louvaminhas, há que fazer por merecer. Fazer por merecer é dar o destaque ao que do seu labor intelectual e reflexivo se deve reter para deixar(mos) de ser o que (fomos) somos e que sendo intrínseco, idiossincrático, sempre contribuiu para contínuos malogros; mais do que ‘numa luta surda, mas tenaz e incoercível’ cerzir(mos) êxitos.

Não se trata de carpir(mos) e sim de ser(mos) consequente(s) ou seja, inteligente(s). Não se trata de cantar eventuais e transactas glórias, mas verberar passados e presentes falhanços colectivos. Dispensam-se loas a alguns dos momentos maiores da sua extensa obra «O labirinto da saudade» e «O esplendor do caos». E é o momento de reter o que a intelectualidade caseira, e a patuleia por maioria de razão, sempre fez por esconder, encobrir, disfarçar, mascarar até se para coisa diversa não fôr que sirva ao menos para, como escreveu, lograr(mos) “fugir dessa imagem reles de nós mesmos”.

Perpassam na minha mente o capítulo «Somos um povo de pobres com mentalidade de ricos» em concreto os sub-capítulos i) O trabalho para o preto, ii) O tradicional grito de «pouca sorte», iii) O aparato e a aparência e iv) Portugal, uma mina para Freud… e «Do intolerável» (de uma intervenção num colóquio organizado pela Fundação Marquês de Pombal em Outubro de 1996).

Reconhecido.

23/02/2020

Tautologia ‘pictórica’ (1)


Há que conseguir descrever desapaixonadamente a génese para melhor se compreender o ‘mistério’. Cingimo-nos às funções, e nada aprendemos sobre o mecanismo. Como explicitou Helmut Wiesenthal ‘sobrevivem os sistemas que são capazes de aprender e estão dispostos a tal’. Se a sociedade estivesse capacitada para aprender  e está  e, simultaneamente, se se dispusesse à aprendizagem as quatro últimas décadas provam até ao fastio que não quis/quer sobrevivia.
O que não aprendemos de forma voluntária, aprenderemos por imposição. Tarda, mas não desaparece. E se os efeitos/consequências mais cedo não chegam tal fica a dever-se à inexistência ou indisponibilidade de «escravos da moral». À lupa, não há escravos da moral. O que prevalece na ‘sociedade civil’ são as redes de malfeitores e bandidos (sem aspas) politicamente enquadrados por súcias partidárias cuja preocupação, primeira, é amojar os úberes à ‘leiteira’.

Com a maior cara-de-pau respondeu o Presidente da República, à missiva dos generais, imputando responsabilidades à ‘apatia da sociedade’, pior, à generalizada ‘insensibilidade e lassidão’. A figura desmerece-me mais do que o comentário seguinte
— “Isto” está muito acima da canópia de vulgaridades com que apascenta o gado; no melhor traço da escola «a culpa/responsabilidade é dos outros» é o topo da escusação.

― • —

     (1) por desapreço

Da obra, li algures que é expressão racista. É um aborrecimento! Realmente estamos imersos numa ‘cultura histérica’ (Lídia Jorge). Que seja! Não deixa de poder arguir-se que, na escala da evolução, as galinhas são muito mais estúpidas do que quaisquer símios. Bandsky podia ter vedetizado galinhas. Ter-lhe-á porventura ocorrido a ideia de as galinhas sendo aladas além de desassisadas, poderiam instigar a imaginação dos contemplativos, críticos, ou seja, levá-los a supor anjinhos. Não são: nem as galinhas nem os figurados/representados.

31/12/2019

Menos!

Um político pode não se achar apto para pensar numa tarouquice ou matutar num absurdo, mas que está sempre pronto a proferir um despautério, está!

Jorge Jesus contribuiu, e contribui, para projectar o prestígio de Portugal (…) tal como fez o Infante D. Henrique

Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República