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23/02/2024

Inteligência artificial vs estupidez humana

Desde que regressei do Fórum Económico Mundial deste ano, em Davos, que me tenho sido insistentemente questionado sobre as minhas principais conclusões. Um dos temas mais debatidos este ano foi a inteligência artificial, em particular a IA generativa (GENAI). Com a recente adopção de grandes modelos de linguagem (como o que é utilizado pelo CHATGPT), há muita esperança – e sensacionalismo – sobre a forma de «como a IA pode ajudar a desenvolver a produtividade e o crescimento económico no futuro».

Para analisar esta questão, temos de ter em linha de conta que a estupidez humana é bem mais predominante no mundo do que a IA. A proliferação de mega-ameaças – elementos de uma policrise mais abrangente – confirma que os nossos políticos são demasiado disfuncionais e as nossas medidas políticas demasiado desorientadas para conseguirem enfrentar até os riscos mais sérios e óbvios que se colocam perante o nosso futuro. Estes riscos incluem alterações climáticas, que terão custos económicos avultados, estados colapsados, tornando as vagas de refugiados climáticos ainda maiores e recorrentes, pandemias virulentas, que poderão ter efeitos económicos ainda mais nocivos do que a covid-19.

02/04/2023

"Quem começa no que é adequado

e nunca encontra o que não é adequado, esquece-se da adequação do adequado" *

Dans un siècle, ceux qui écriront l’histoire de la transition démographique européenne seront sidérés par les efforts intellectuels investis par ceux qui la subissaient ou la justifiaient pour expliquer qu’elle n’avait pas lieu. 
Notre époque s’essaye au grand écart logique en expliquant que l’immigration massive est une chance pour l’europe tout en expliquant en même temps qu’elle n’a pas lieu.

"Se nos esquecermos que temos pé, o sapato é adequado,
Se nos esquecermos que temos barriga, o cinto é adequado,
Se sabemos esquecer o certo e o errado, a mente é adequada,
Se não há perturbação interior nem sujeição ao exterior,
o momento de actuar é adequado" **

Une fois qu’elle a toutefois transformé la composition démographique d’une population, on célèbre alors cette mutation, tout en expliquant qu’il ne s’agit pas d’une mutation car il en aurait toujours été ainsi. On pousse l’audace toujours plus loin en expliquant qu’un peuple historique ne peut subir une submersion migratoire et devenir minoritaire en son propre pays car ce peuple n’existerait tout simplement pas – les peuples n’auraient aucun substrat identitaire ou 

26/03/2023

Exclamação I

Gilles Lipovetsky
* esteve cá e um jornal pô-lo a discretear em redor dos corolários do seu último livro, A Sagração da Autenticidade, no qual nada há de inédito à excepção de alterações de 'consciências colectivas', ponderáveis e factuais, que a minha inteligência e as minhas percepções impedem vislumbrar. 
Quem antes detectou e explicou o individualismo contemporâneo em A era do Vazio e Tempos Hipermodernos, oco em A Era do Vazio, efémero em O Império do Efémero e Plaire et Toucher - essai sur la société de la séduction, principal componente da mundialização do ocidente ou ocidentalização do mundo em L’Occident mondialisé, fica ‘manietado’ – não vislumbro, mas .. posso estar equivocado ou saber pouco, mas à mole vazia, seduzida por uma felicidade, paradoxal, fascinada pelo efémero, etc… nada faz prova de uma alteração qualitativa. Nem uma mais aparente que real consciência ambiental, colectiva – para já e por enquanto parece-me serem poucos os que, com impacto expresso e significativo, abdicaram de parcela de comodismo, consumismo, … e por aí vai em favor do 'calhau gravitante' e benefício do futuro da humanidade, com excepção de um charivari politicamente orientado. Ora, disto à consciencialização vai uma regeneração - que, para Lipovetsky é já mensurável (ler excerto) mas, para mim, permanece um desiderato. Em que mundo viverá ele?! - que suscita um universo de dúvidas e muito poucas certezas. 

" (...) O autêntico passou a ser o new cool. (...) a autenticidade exibe todo o seu esplendor, afirmando-se como um objecto de desejo de massas. (...) Cada vez mais, a comunicação das empresas procura denunciar a insignificância espetacular, jurando não fazer greenwashing ou socialwashing. Sai a ganhar aquele que for mais honesto, mais autêntico: trata-se, em todos os quadrantes, de promover as «verdadeiras» necessidades e valores (...) Depois do «chique radical», hoje em dia, exige-se autenticidade em tudo: nos pratos, nos locais que se visitam, em nossa casa, em nós, na educação, no universo das marcas comerciais, na liderança das empresas, na vida política e religiosa. E, acima de tudo, mais do que nunca, na vida pessoal, familiar, sexual, profissional. (...) Ao contrário dos momentos anteriores, a nova fase de modernidade em que entrámos promove a consagração social da ética da autenticidade individual. (...)"

Homem de Fé! Não me importava de coabitar a bolha dele.

* pensador que sigo com muito interesse

16/02/2023

De mal-entendidos se faz uma imensa mistificação

A quem aproveita?

João Pedro Marques
numa conversa 'incorrecta' com o foco na escravatura, mas abordando também o 
wokismo, Joan Baez e George Orwell. Foi professor universitário e do ensino secundário e investigador do Instituto de Investigação Científica Tropical. Especialista em História da Escravatura, tem sido uma das principais vozes críticas contra o politicamente correcto em redor das questões raciais.

Existe a ideia de que foram as revoltas dos escravos que foram determinantes para a abolição da escravatura. Destaca a preponderância do movimento abolicionista na libertação dos escravos nas colónias, do papel dos ocidentais nesse processo e defende que o primeiro país a abolir a escravatura foi o actual Haiti, antigo Saint-Domingue…
Essa opinião está errada. Quer dizer, estritamente falando, está errada. Repare, o jogo aí é utilizar a palavra “país”. É isso que condiciona, deturpa e esconde o que foi a realidade. Os estados do norte dos Estados Unidos da América já estavam a abolir a escravidão. Começaram a fazê-lo na década de 70 [do século XVIII], ou seja, quase 30 anos antes de o Haiti se ter tornado independente [em 1804]. O Vermont, a Pensilvânia, Nova Iorque… A pouco e pouco, esses estados do norte dos Estados Unidos iam abolindo, de uma forma gradual, a escravidão. Mas naquilo que viria a ser o Haiti, já a França tinha abolido a escravidão. Ou seja, o primeiro país a abolir a escravidão, foi a França. Globalmente, foi a França, em 1794, em plena revolução francesa. O comissário francês que na altura estava na colónia francesa então chamada São Domingos [Saint-Domingue ], um indivíduo chamado Sonthonax, em 1803 decretou a abolição da escravidão. No ano seguinte, a Assembleia em Paris ratificou a medida do seu comissário e aboliu em todas as colónias da República Francesa. Portanto, o primeiro país a abolir a escravidão foi a França. É verdade que, adiante, no tempo de Napoleão, a medida foi revertida. Em 1802, Napoleão repôs a escravidão. E quando o Haiti se tornou independente constitucionalmente, em 1804, aboliu definitivamente a escravidão nessa região. Mas, como vê, a história é mais complexa do que essa visão taxativa. De facto, os abolicionistas foram decisivos. Sem os abolicionistas, boa parte dos quais brancos, não teria havido abolição. Isto não é uma opinião exclusivamente minha. Muitas colegas historiadores defendem este ponto de vista, mas são quase todos velhos como eu, não é? Anteriores à chegada do wokismo.

18/11/2022

Sobre assuntos sérios e, pelo caminho, "de alguns borregos que são

o nosso melhor esteio e o melhor símbolo do país" *
    
           “Quando desafio Inês Sousa Real para um debate ela desaparece 

Luís Guimarães, físico nuclear, critica os ministros do Ambiente e partidos como PAN, Verdes e organizações que não se baseiam na ciência. Defende que a energia nuclear é mais segura e limpa e que temos de derrubar os preconceitos.
Atirar sopa a quadros, pedir combustíveis mais baratos ao mesmo tempo que se quer diminuir o consumo e viver com energia 100% renovável são erros, que os ambientalistas tradicionais cometem.
Luís Guimarães trabalha como Data Scientist numa empresa de telecomunicações, é um dos co-fundadores da RePlanet Portugal. A organização defende um ambientalismo com  base na ciência, sem crenças ou preconceitosProfessor convidado numa universidade pública considera que, para conseguirmos uma descarbonização, temos de apostar no nuclear - é uma opção segura.

Há uma pergunta na cabeça das pessoas desde o começo da guerra na Ucrânia, quando os russos se aproximaram da central nuclear de Zaporizhzhia: quais são os riscos que nós corremos?
Zero. A central de Zaporizhzhia são seis reactores soviéticos, dentro de um edifício de contenção que está desenhado para resistir ao impacto de um avião de passageiros, grande. São paredes de betão reforçado de 1,20 m. O combustível nuclear, do tamanho de gomas, são pellets cerâmicos e apenas ficam radioactivos depois de estarem no reactor. Não são solúveis em água e só derretem a temperaturas muito elevadas, bastante acima das temperaturas de operação de 300ºC de um reactor convencional. Não há um mecanismo eficaz de espalhar combustível nuclear sem que este seja fortemente diluído na atmosfera, deixando de ser perigoso ao fim de alguns quilómetros. Explosivos convencionais não são suficientes para pulverizar estes pellets. Portanto, o alcance do pior evento possível em Zaporizhzhia, estaria circunscrito à zona da central, algo como um raio de 20 km. As áreas de protecção destas centrais são de 30 km, por motivos de segurança. Mesmo a pior explosão convencional, independentemente de serem seis reactores como em Zaporizhzhia, ou apenas um, teria impacto na área circundante da central num raio pequeno. O pior que poderá acontecer em Zaporizhzhia através de métodos convencionais de sabotagem terá efeitos muito localizados. E uma central nuclear não explode.
É uma ideia que se tem.
Não é uma explosão nuclear. Todos os acidentes até agora, e foram três, vivem no nosso colectivo, mas não foram tão graves como se pensa. Esta informação é pública.

18/09/2022

Espíritos livres

Aos que com base na sua procedência ou meio, posição ou função e, quantas vezes, dessintonizados das 'opiniões' predominantes e/ou prevalecentes, e, que ousam sem esforço pensar de modo diverso porque, entendem, não lhes incumbem  as opiniões correctas, próprias dos espíritos cativos, chama-se-lhes «espíritos livres». Regem-se preferencialmente por razões ao invés dos espíritos cativos que desde sempre, e na maioria dos casos por pusilanimidade, se enrodilham nas aparências eruditas apreciadas por governos, igrejas, academias, hábitos,… Ao contrário dos homens objectivos, que mercê de uma ‘fidelidade de carroceiro’ comummente são instrumentos, os espíritos livres não pensam com o relógio na mão.

La historia del islam está llena de sangre
Adonis, poeta

El escritor, candidato al Nobel del mundo árabe, charla en Madrid, donde ha recibido la Medalla de Oro del Círculo de Bellas Artes. Han quemado sus libros, han tratado de silenciarlo, pero Adonis (seudónimo de Ali Ahmad Said Esber) continúa siendo la conciencia crítica del mundo árabe, a la vez que su más grande poeta vivo. Su grandeza está más allá de haber recibido premios como el Goethe, el Grinzane Cavour, el Max Jacob, la Medalla Picasso o la Medalla de Oro de Círculo de Bellas Artes, entre otros muchos; su grandeza está más bien en el hecho de darle a la poesía una dimensión de transcreación de la realidad, de hacer del poema una forma de conciencia y, por tanto, algo que se opone a los dogmatismos religiosos, tecnológicos o políticos. Hay pocos poetas en cualquier lengua que hayan hecho de la libertad un idioma, y que se hayan convertido en guías que nos enseñan a transitar los caminos del siglo XXI; es una figura irreductible, especialmente lúcida para poner el dedo en las llagas de nuestro tiempo. Es el hombre que no encontró un sitio en Siria, el que huyó del Líbano cuando este país se suicidó en una guerra interminable, el que llegó como un prófugo a Francia con una maleta llena de poemas, el que vivió perplejo desde su casa en un bloque de gran altura el baño de sangre en la redacción del ‘Charlie Hebdo’ o cómo sus compatriotas eran empalados por el Dáesh. Nunca pierde la sonrisa, tampoco la esperanza. Escribe poesía para crear un mundo nuevo.

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