Da
brigada opinante que opera na comunicação social um dos que ainda ouço é José
Miguel Júdice. Dos restantes ‒ do Marques Mendes ao
Paulo Portas … já se me turva a ideia das respectivas fisionomias e de ‘mesas
redondas’ com Oliveiras, Lopes, Claras, fujo. Esta
semana, Júdice sugeriu a leitura de «Correspondência
– Eduardo Lourenço, Jorge de Sena», sem esboçar a mínima justificação
instigadora: desconheço se por falta de tempo. Facto é que merece ser lido ‒ na minha perspectiva porque o que mais tem
havido, anos e anos a fio, é especialistas a sacar de E.L. para armar ao pingarelho e a divagar de forma absolutamente
tortuosa e, sem acaso, a tortuosidade é constituída por uma resma de omissões
inconvenientes aos predicatórios; ou seja, para que aqueles que emprenham pelos
ouvidos, a maioria, permaneçam numa ignara existência sem lhes tolher os caminhos
para a beberragem do fino.
Como
escreveu Lourenço, citando Göethe, “o povo que efectivamente trabalha e para
quem a maioria das revoluções, que se fazem em seu nome, não significam mais
que a possibilidade de mudar de ombro para suportar a costumada canga” ou “não trabalhar foi sempre, em Portugal, sinal
de nobreza” ou “os portugueses vivem
em permanente representação, tão obsessivo é neles o sentimento de fragilidade (…), e a correspondente vontade de a compensar
com o desejo de fazer boa figura”, etc … são (algumas das) proposições,
postulados, sistematicamente ‘obliterados’ por parte da mestrança panegirista. Mas
melhor, mais útil, esclarecedor, são as considerações de toda a ordem sobre ‘os inconvertíveis e liliputianos coríntios
da nossa comum e irredenta cultura’ (1982).
Nutria, pela maioria deles, um
respeito intelectual e uma consideração pessoal notáveis.
Da caneta de Jorge de
Sena, mais impetuoso, é um fartote.
* "(...) a cambada está a ganhar, Não vale a pena, Portugal é daquilo, e as gerações sucedem-se cada uma mais canalha que a outra" - Jorge de Sena, 1972