[Nota prévia: solicito e agradeço que o post seja lido com a indulgência e condescendência com que lêem outros de sensibilidade e conclusões diferentes ou opostas. Das gravuras anexas cada qual que tire as suas conclusões - eu desobrigo-me.]
♦
Falam-nos
de algo que, na realidade, não existe. E se por acaso aludem à
necessidade do restabelecimento de uma pequena série de valores que,
para as gerações nascidas no dealbar do séc. XXI, representam
«zero»; para os próprios são o ramerrame. Teoricamente podiam
abster-se de as fazerem, mas, de facto é-lhes impossível não as
fazer. Além do mais há que reconhecer(-lhes) a óbvia desorientação
e impotência perante o manancial de solicitações e exigências de
toda a ordem e natureza mercê da comum deficiência de 'envergadura'
na compreensão, pior, na antecipação das tremendas dinâmicas em
relação às quais são em rigôr alheios. No seio destas obviedades
há uma outra, vital, e que simplificando resumiria assim:
constatada a falência
da vontade e a ausência de empenho opta-se pela sacramental ou
melhor, a oportunista inércia dos condenados. Depois o desespero
leva-os a decisões (ou intenções) ridículas. Com que olhos se
pode apreciar a decisão de Macron em pôr as crianças e
pré-adolescentes, de ora em diante, nas escolas, a cantar «A
Marselhesa»? Quem simultaneamente anda mundo afora rogando
compreensão e perdão dos 'desmandos' franceses! Mas como fizeram
eles este caminho? Quem acolheu Khomeini? Onde se refugiou o
‘imperador’ Bokassa? [Toca pois a receber os agradecimentos] Quem
ao mesmo tempo propõe e dá respaldo a decisões na UE de
uniformização, globalizantes! (desconsiderando que o contrário, os
nacionalismos, já são aparentemente infactíveis)
♫
“A zona que se interpõe entre a mentira de tudo e a verdade iluminada de nós próprios é um baldio para os outros, e no qual se constrói a «psicologia das multidões»”Vergílio Ferreira
2024
é um ano comemorativo. Desejam que seja jubilatório, mas falharão;
farão o necessário para que seja liturgicamente impressivo, mas não
será. As salmodias serão retrospectivamente dionisíacas e
prospectivamente miríficas. As rábulas serão compósitas, e as
plateias mandam. O
dogma é ―
«Os intrépidos, abnegados democratas resgataram-nos daquele portal
do Inferno
em
que estávamos atolados»
A
lírica, a prosápia sobre o decurso democrático de cinco décadas
conterá tudo o que seja necessário por forma a esconder ou
dissimular o contínuo cortejo de falhanços ―
arrebatamentos (pelo povo), utopias (para o povo), descaramentos (com
o povo), indecências (legitimadas pelo povo) ―
e de poucas-vergonhas ―
considerando os ciclícos escarcéus políticos, as consabidas e
inúmeras vidas de pirata e não poucos de autêntico gangsterismo que vicejaram a coberto
ou dentro dos partidos, o
corropio à roda da mesa do orçamento, a contumácia e as múltiplas
acções de pilhagem com cobertura política, etc…
♦
A
pergunta não é retórica. Existem, em Portugal e na Europa, uma
multiplicidade de dados que há uma década podiam ser considerados
sinais inquietantes, mas presentemente são evidências alarmantes.
Ainda assim depreciadas. Dessas cinjo-me aos demográficos pelo que
representam na paleta de mudanças societais e que, pela sua
natureza, contêm dinâmicas irrefreáveis e ainda menos reprimíveis.
A Europa, sempre, por razões conjunturais e de curto prazo, manteve
fechadas as várias janelas de oportunidade que se lhes depararam.
Foram desvalorizados por meras conveniências políticas –
E sempre por tacticismo. Foram sub-valorizados, retorcidos e moldados
de uma forma ideologicamente o mais coerente possível por uma parte
avassaladora da academia e da presumida ‘intelectualidade’. E
quem fosse dissonante, os menos volúveis, era/é de imediato
submerso por um chorrilho de adjectivos pouco edificantes e
substantivos «com forte marca» e, popularmente ― os psitacídeos
não aprendem línguas, repetem vocábulos! ―, por impropérios.
"Há uma distância infinita entre a aparição da verdade, a imediata evidência de seja o que for, e até mesmo o seu reconhecimento; quando olhamos a evidência pela segunda vez já ela está alinhada, classificada, endurecida entre as coisas que nos cercam. Eis porque ignoramos ou esquecemos depressa a face do que há de estranho nos factos mais banais."Vergílio Ferreira