26/03/2023

Exclamação


A criatura é definitiva e irremediavelmente ― burro velho não aprende letras ― um ‘palerma’: um palerma ‘inteligente’. De onde lhe vem a ‘inteligência’? De uma coluna vertebral gelatinosa que 1. explica a verbiage, profícua e 2. fiadora, desde os tempos da ‘outra senhora’, de uma carreira de ‘êxitos’. O resto completivo não lhe é assacável ― é imputável, à vez, 1. à rede comunicacional e a quem a constitui bem como 2. à massa acéfala que o legitima.

25/03/2023

O significado

de uma obra depende tanto de quem a lê ― e para nossa desgraça não há como 'descartar' a nefasta influência que sobre a mole exerce "a catedralicada e eruditância deste mundo como um bando de azêmolas empenhadas em justificar-se à força de fichas" ― quanto de quem a escreve. Há livros que soariam como as trombetas de Jericó se as pessoas os elevassem ao ar e lhes soprassem. É o caso da estória anexa - o valor ínsito fica por conta de quem o lê.
A crise intelectual que enfrentamos não deve ser atribuída à nossa dúvida na força da razão, mas ao facto de o seu alcance permanecer insignificante ― e a prová-lo está que a quantidade de pessoas é mais decisiva do que a qualidade das verdades. Até concedo que dispunhamos de boa 'matéria-prima' ― o probleminha é que continuamos sem saber o que fabricar com ela.
Obs.: aproveito para dizer que o meu 'sentimento' relativamente a essa 'catedrálica eruditância' porém medíocre, que enxameia o espaço público 'convencida da sua importância no mundo de entre Melgaço e V.R. de Sto. António'' - G. Oliveira Martins, Manuel S. Fonseca, António Araújo, V. Soromenho Marques, J. Pacheco Pereira, Tolentino Mendonça e outras 'coisinhas' bem mais liliputeanas como R. Araújo Pereira, José Luis Peixoto, Walter Hugo da mãe, Inês Pedrosa, Hélia Correia, ... está descrito com precisão no que René Char, citado por Marina Perezagua em «Seis formas de morrer no Texas», um dia, escreveu
"Ceux qui regardent souffrir le lion dans sa cage pourrissent dans la mémoire du lion"

Quem leu Jorge Luis Borges ― quem leu J. Luis Borges? ― depara, em «El Hacedor», com esta imaginada, brevíssima e ainda mais profunda estória que ― ouço-os ― 'a mediocridade que vive convencida da sua importância no mundo de entre Melgaço e Vila Real de Santo António' etiquetará de «desimportante» e «datada». O que é uma obra datada? Será, imensas vezes, o que passa sem etiquetagem da 'catedrálica eruditância de um bando de azêmolas' cujo fardo intelectual lhes acaba por esmagar a sensibilidade e a intuição. Ou pior! É que não é acaso o facto de ainda nos dias de hoje faltar quem suscite dúvidas sobre instrumentos/'ferramentas' e utilizadores entenda-se, «o homem, a ciência e a técnica». Assunto que cheguei a supor dilucidado, esclarecido, mas não - apesar de SpenglerMeneghetti, Heidegger, Max Eyth **, Leopold Ziegler ***, Theodor Litt ****...

Não lamentem pois, no presente, as redes sociais, a IA, ... Da mesma forma que, no passado próximo, não deviam ter lamentado a 'ciência nuclear' e as suas consequências. Optem por lastimar uso dado às ferramentas (quaisquer ferramentas - do martelo a... uma drageia de Medipax) pela esterqueira bípede, erecta e 'racional' que frequenta o monturo. No que me respeita ainda hoje eu questiono a imoralidade ou amoralidade da «rosa de Hiroxima»!
                                                                        ~~~

* carta de Jorge de Sena para Eduardo Lourenço, Janeiro de 1972
** "técnica é tudo o que dá forma corporal á vontade humana"
*** "na epoca estonteante do capitalismo (rasura de minha responsabilidade) a técnica converteu-se em serva da economia"
**** "a técnica é a prática de aplicar os meios; a tecnologia é a teoria dos meios que hão-de aplicar-se ao serviço ..., mas o meio é de valor indiferente - a sua natureza reside em ser utilizado e em servir um fim que se encontra fora dele" (1953)



23/03/2023

Uma determinada 'cartografia'. Mas ...

os aromas do tempo que corre, dizem-nos que cada qual usa a geodésia a seu bel-prazer e de acordo com a(s) 'ciência'(s) por si validada(s). Chega-se a isto quando se dá conta que 1. cada homem determina por si próprio o tipo de pensamento que quer ter e 2. quem anda à nossa volta não tem interesse em ser desenganado.
                                                                       Ø
En francés (y en otros idiomas, como el mío, el esloveno) para designar el “futuro” existen dos palabras que no pueden traducirse adecuadamente en algunas lenguas: futur y avenir. Futur designa el futuro como la continuación del presente, mientras que avenir es una discontinuidad con el presente: lo que está por venir (à venir), no solo lo que será. Si Trump estuviese por derrotar a Biden en las elecciones de 2020, hubiera sido (antes de las elecciones) el futuro presidente, pero no el presidente por venir.

El pasado está abierto a reinterpretaciones retroactivas, mientras que el futuro está cerrado, ya que vivimos en un universo determinista. Esto no significa que no podamos cambiar el futuro; solo significa que, para cambiar nuestro futuro, primero deberíamos (no “entender”, sino) cambiar nuestro pasado, reinterpretarlo de manera que se abra hacia un futuro diferente del que implica la visión predominante del pasado. ¿Habrá una nueva guerra mundial? La respuesta puede únicamente ser paradójica: SI fuera a haber una nueva guerra, será una guerra necesaria: “si tiene lugar un acontecimiento excepcional, una catástrofe, por ejemplo, no podría no haber tenido lugar; sin embargo, en tanto no tuvo lugar, no es inevitable. Es, pues, la concreción del acontecimiento – el hecho de que se produzca – lo que crea retroactivamente su necesidad”. Una vez que estalle el conflicto militar a pleno (entre EE.UU. e Irán, entre China y Taiwán, entre Rusia y la OTAN...), aparecerá como necesario, es decir, leeremos automáticamente el pasado que condujo a eso como una serie de causas que necesariamente provocaron el estallido. Si no se produce, lo leeremos como leemos hoy la Guerra Fría: como una serie de momentos peligrosos en los que la catástrofe se evitó porque ambas partes eran conscientes de las consecuencias mortales de un conflicto mundial.

18/03/2023

Ilustração

Vai para quarenta anos, a administração do BPSM (Banco Pinto & Sotto-Mayor) presidida pelo prestigiado tecnocrata (sem ironia) Lo
ureiro Borges decidiu unilateralmente e sem dar conhecimento aos depositantes, fazer uma necessária, e urgente, limpeza no balanço leia-se, aliviar o ‘peso’ das operações passivas umas largas dezenas de milhões de contos. O que fez? Depósitos superiores a cinquenta contos em regime de capitalização, no vencimento, não capitalizavam. Os depositantes residentes tiveram condições para reagir no sentido de minimizarem perdas, mas os depositantes emigrados não tiveram o segmento focado era mesmo este: BPSM e CGD detinham o portfolio da emigração; o BNU, o BPA e o BF&B eram pouco expressivos.
A banca ainda estava nacionalizada e, por conseguinte, equacionar a possibilidade de mexer na componente «balanço social» ou seja, chamar à mesa a direcção dos recursos humanos, por exemplo, era inimaginável. A banca nacionalizada detinha uma outra função: não contribuir para o desemprego.