05/06/2022
Llosa
sobre um livro alheio e, de passagem, umas notas sobre um dos maiores pulhas do séc.XX
Escrito/Editado por
David R. Oliveira
09/05/2022
Para iniciar
a
semana com as melhores das expectativas, não podia ser melhor.
A
parada militar na Praça Vermelha, em Moscovo, e o ‘decepcionante’ discurso de
Putin aos mujiques. Porque, lá no fundo, o que a rapaziada paisana — especializada em geopolítica, relações
internacionais, artes de guerra, … que despontou como cogumelos e enxameia a
comunicação social — mais ansiava era
ouvi-lo ‘decretar’ guerra, e a consequente mobilização geral. Não o fez; ficou-se
pela «operação especial», desnazificadora. Lástima, isso é o que temos há dois
meses e picos.
De
fora, mas do lado de cá, multiplicam-se os devaneios, e a ‘afirmação’, de gente
que se contenta em servir de estopim (1) ‒ não
trazem à humanidade um ‘milavo’ de utilidade —, e nada mais que isso.
Cá
dentro, o perfume (2) que nos inebria é o mesmo. Mudar o(s) perfumista(s) não é
solução ‒ não por frouxidão da
fantasia ou destreino dos olfactos deles mas, por uma lado, a maestria de
«cristais de massa» * e, pelo outro, narizes embrutecidos demais para
distinguirem um aroma râncido de uma água-de-colónia.
(1) F.J. Viegas
(2) Joana Petiz
* designação atribuída por Elias Canetti a “grupos rígidos, firmemente delimitados, estáveis e visíveis, de pessoas que servem para desencadear massas”
Escrito/Editado por
David R. Oliveira
10/04/2022
Da incompatibilidade entre lirismo e política
Descobriram
que a senhora ― ou a senhora ‘descobriu-se’ ― faz parte do plenário da academia
de Nuremberga, é jurista do Tribunal Penal Internacional – uma, entre 900 juristas
provenientes de 100 Estados ‒ e imagine-se é tão,
mas tão importante, que, de há semana e meia para cá não houve dia em que a
senhora, a propósito da invasão da Ucrânia e do rasto de atrocidades que o
banditismo fardado vai cometendo, não faça jus à notoriedade ignorada pelo
público até ao presente.
Nestes
termos nada contra ― com a sra. dra. do TPI
e da academia de Nuremberga como com o Araújo Pereira, o Markl ou o Vasquinho
Palmeirim. Emborca quem quer: porque sim ou porque gosta.
A
questão é que Ricardo AP, Markl e o Vasquinho são pagos para fazerem de
parvos, engraçados, mandar bocas, fazer de muito inteligentes e outras ‘coisas’
que tal, mas a sra. dra. Anabela Alves não existe para nada semelhante o que,
no caso, equivale a sentenciar que, entre o dedo no ar e a prontidão para o «eu
é que sei», devia rever muito do que profere e tomar uma boa dose de
comedimento.
Sem
mais delongas e porquês no fim da espremedura o que sobeja é: entre a ideia,
a intenção, o desejo,… e a efectividade das ‘coisas’ há um imenso baldio que,
umas vezes por isto e outras por aquilo, assim se mantém há séculos.
Quanto a
apreciações fico-me pelo ínsito na gravura.
Atrevo-me a afirmar que se
não forem os russos, seja lá por que meios fôr, a tratar da ‘encomenda’ em casa, nunca o TPI julgará Putin e os algozes ou, julgando-o, nunca o réu cumprirá a
sentença.
Por
uma imensidade de detalhes, casuísticos, e um outro imarcescível
“quando os factos se dependuram no museu da História vão já despidos das manhas com que a malícia dos homens os embrulham e então, as ideologias, as ofensas, tudo aquilo com que a gente pretende negar as bestas que somos ” faz o resto.Fiz-me entender?!
Escrito/Editado por
David R. Oliveira
04/04/2022
Anatomia da comoção
Se
qualquer um tem o direito a expor o ‘trauma’, acho-me no dever de dizer ‒ e qual ‒
a minha repugnância.
~
• ~
As
fotografias não são do Afeganistão, do Iraque ao tempo do Estado islâmico, nem de
Srebrenica na Bósnia-Herzegovina. De onde nos chegam todos sabemos.
Aquelas
não reverberaram por aí além no seio dos ‘civilizados’ porque, enfim, eram as
incisões da temeridade de boçais amestrados, retratos de actos praticados por selvagens
e, se há ‘coisa’ que os ‘civilizados’ possuem, é a exacta medida para não
alimentar falsas expectativas ‒ ou seja, a boa expectativa
é, cedo ou tarde, o pior; estas (pelo que ouço/leio) deixam um profundo sulco
de repulsa nos ‘civilizados’.
Estão chocados, não há bicho-careta que não se diga chocado.
Ora
o ‘choque’, que aquelas me causaram e me causam estas, é semelhante – não é
igual porque jamais usei óculos cor-de-rosa e, como escreveu Vergílio Ferreira
(1945), “com óculos cor-de-rosa só se vê
o mundo cor-de-rosa enquanto dura a lembrança do outro ‒ do que o não era; ao fim de pouco tempo com óculos
cor-de-rosa, a cor-de-rosa não existe”.
Digo
que o meu choque ‒ no meio de tanta
indignação e choque ‒ não faz oscilar, em um
mícron, a agulha do sismógrafo. Mas o refinamento da manha, a cobardia
dissimulada, a perfídia e a nequícia, …tudo o que compõe este «quantificador
universal», leia-se, o mais requintado farisaísmo e a mais acrisolada
hipocrisia, agora mais do que sempre, causa-me uma apreciável sucussão.
~
• ~
No dia em que o cúmulo dos ‘choques’,
consequentes indignações e traumas ‒ políticos ou não, institucionais ou quaisquer outros, de Vladivostok
a Santiago do Chile, de Cape Town a Rovaniemi ‒ conseguirem levar Vladimir Putin e os
verdugos a sentarem-se no ‘banco’ para serem sentenciados, à semelhança de
Milosevic e Mladic, eu retrato-me.
Escrito/Editado por
David R. Oliveira
27/03/2022
Daqui não saio, daqui ninguém nos tira
“Estou pronto para a assumir uma opinião que não está de acordo com a da maioria. É fácil criticarem-nos, mas actuamos pelos civis”; “é inútil colocar as pessoas umas contra as outras. O mais importante é preservar os funcionários e assegurarmos a nossa missão primária - alimentar as populações destes dois países. Nunca tivemos outro objectivo”; “todos os dias fazemos pão para os ucranianos e para os russos”; “acreditamos que podemos contribuir em tempos de inflação para proteger o poder de compra dos habitantes (…) se o Auchan sai, privaremos 30 mil funcionários dos seus salários - 40% deles são funcionários e accionistas”
alegou Yves Claude, líder do grupo francês Auchan.
Evidentemente que, Yves Claude, está carregado de boas razões e a racionalidade do que profere é inatacável; o mesmo sucederia se, Yves Claude, tivesse proferido ponto-por-ponto uma alegação oposta para justificar a saída ou suspensão da actividade do grupo na Rússia.
Por aí não vamos lá: as pessoas e as nações possuem virtudes distintas e defeitos idênticos.
Coloco o assunto neste pé porque o verdadeiro, e absoluto, teste é impraticável.
Qual seria ele? Seria um imparável movimento de boicote às compras nas lojas do grupo, em todos os lugares, fora do território russo. De certeza que seria bem mais precioso ‘fazer o pão’ para um mercado de 500 milhões de clientes, potenciais, do que a preservar os cento e quarenta milhões de russos.
Verdadeiro e absoluto teste porque, Yves Claude, teria de optar sem vacilar — é que as pessoas (e as nações!), salvo raras excepções, portam-se com decência quando as circunstâncias não lhes permite outra escolha; e, Yves Claude, sem escolha, ficava com a opção facilitada.
No meu entendimento, a decência está além e acima destas 'contas' e, inúmeras vezes, é inconciliável. Falta justificar a «inconciliação», óbvia. Justifica-se pela vileza ‒ a sordície é o nosso património comum. Património comum é a comprovadíssima constatação – explicável pela existência do oposto.
Acresce que a «moralidade» é contingente e, em assuntos desta natureza, inapropriada senão vil.
Escrito/Editado por
David R. Oliveira
Subscrever:
Mensagens (Atom)