Se
qualquer um tem o direito a expor o ‘trauma’, acho-me no dever de dizer ‒ e qual ‒
a minha repugnância.
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As
fotografias não são do Afeganistão, do Iraque ao tempo do Estado islâmico, nem de
Srebrenica na Bósnia-Herzegovina. De onde nos chegam todos sabemos.
Aquelas
não reverberaram por aí além no seio dos ‘civilizados’ porque, enfim, eram as
incisões da temeridade de boçais amestrados, retratos de actos praticados por selvagens
e, se há ‘coisa’ que os ‘civilizados’ possuem, é a exacta medida para não
alimentar falsas expectativas ‒ ou seja, a boa expectativa
é, cedo ou tarde, o pior; estas (pelo que ouço/leio) deixam um profundo sulco
de repulsa nos ‘civilizados’.
Estão chocados, não há bicho-careta que não se diga chocado.
Ora
o ‘choque’, que aquelas me causaram e me causam estas, é semelhante – não é
igual porque jamais usei óculos cor-de-rosa e, como escreveu Vergílio Ferreira
(1945), “com óculos cor-de-rosa só se vê
o mundo cor-de-rosa enquanto dura a lembrança do outro ‒ do que o não era; ao fim de pouco tempo com óculos
cor-de-rosa, a cor-de-rosa não existe”.
Digo
que o meu choque ‒ no meio de tanta
indignação e choque ‒ não faz oscilar, em um
mícron, a agulha do sismógrafo. Mas o refinamento da manha, a cobardia
dissimulada, a perfídia e a nequícia, …tudo o que compõe este «quantificador
universal», leia-se, o mais requintado farisaísmo e a mais acrisolada
hipocrisia, agora mais do que sempre, causa-me uma apreciável sucussão.
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No dia em que o cúmulo dos ‘choques’,
consequentes indignações e traumas ‒ políticos ou não, institucionais ou quaisquer outros, de Vladivostok
a Santiago do Chile, de Cape Town a Rovaniemi ‒ conseguirem levar Vladimir Putin e os
verdugos a sentarem-se no ‘banco’ para serem sentenciados, à semelhança de
Milosevic e Mladic, eu retrato-me.