Inexiste qualquer tipo de acrimónia em relação às pessoas mencionadas.
Ontem,
01.05.2020, o Público editou um texto
da professora Susana Peralta; hoje, 02.05.2020, dá à estampa outro
do professor José Reis. Dois exercícios, a rogo ou por avença, do que
comummente se chama ‘encanar a perna à rã’. E nessa medida não são formadores;
são exercícios especulativos, e, pior, sem enobrecerem a ‘disposição espiritual’
polemista.
— • —
A
professora Susana Peralta ao fim de 815 palavras prenhes de referenciais
estatísticos chega ao âmago. Esperava que não só esbravejasse a preocupação ambiental
mas, por mais ténue que fosse, sugerisse algo.
“No
imediato, há várias medidas que podem ser tomadas para preparar o terreno para
as economias saírem disto mais sustentáveis. Soubemos ontem que a CIP defende a
entrada do Estado no capital das empresas em dificuldades. O Governo pode e
deve exigir das empresas intervencionadas compromissos ao nível da transição
energética. (…)
Na Europa, as companhias aéreas – um dos
sectores mais poluentes, cujas emissões subiram um terço entre 2013 e 2018
– já pediram quase 13 mil milhões em ajudas. O governo austríaco impôs à
Austrian Airlines objectivos de redução de emissões para intervir na empresa.
Por aqui, o Governo prepara-se para intervir na TAP sem qualquer contrapartida
ambiental, porque “a nossa missão é salvar a TAP”, nas palavras de Pedro
Nuno Santos.(…)”
Desconhecendo
o ‘protocolo’ consignado entre o governo austríaco e a administração da
Austrian Airlines, nem dele careço, pergunto
— Quais poderão ser as “ contrapartidas” (regras/normas)
exigíveis a uma companhia de aviação?
Parece-me
que não existe uma que seja que, excepcionando vieses corruptivos ‒ a não ser que sejam
loucos! ‒ possa desinteressar
aos proprietários ‒ Estado ou privado ‒ como, por exemplo, a optimização do rácio combustível/passageiro
ou carga.
‡
O
senhor professor doutor José Reis, hoje, escreve
“Nas
duas décadas deste século, (…) Portugal teve a maior convulsão territorial da
nossa contemporaneidade. Refiro-me a uma alteração profunda das relações entre
as regiões, cujas evoluções se tornaram assimétricas e contrastantes como nunca
foram. Isso resultou de algo muito preciso: uma forma de crescimento unipolar, apenas centrado na Área
Metropolitana de Lisboa (AML), com definhamento de todos os outros espaços,
sejam eles urbanos, rurais, litorais ou interiores. A consequência mais significativa de tudo isto foi o que se passou com
as cidades médias, que generalizadamente regrediram em termos demográficos, (…).
Inversamente, assistiu-se ao crescimento demográfico explosivo das periferias
da região lisboeta.”
1055
palavras para colocar à consideração
dos leitores três perguntas ‒ eminentemente retóricas, e só! ‒ a que respondo sem peias.
“Seremos
nós capazes de redescobrir o país inteiro e de nos organizarmos internamente
noutra base, mais saudável?”
‒ Não.
“Vamos
dar atenção às cidades médias, aos pequenos meios, às regiões, aos diferentes
territórios, em vez de apenas lhes escoarmos as respectivas populações?”
‒ Não.
“Vamos
reequilibrar o país e desfazer um quadro explosivo?”
‒ Não.
Não,
não e não porque, o sim a alguma, exigiria que o 'legitimador' dos diversos
poderes envolvidos exibisse um nível de exigência e que, na sequência, fizesse
opções políticas que, pelo menos em relação às elites peroradoras ou ao
dirigismo político e administrativo, equivaleria a não deixarem pedra sobre
pedra. E se há ‘coisa’ de que, por mais que barafustemos, não podemos
queixar-nos, é de desconforto.
•
É
como Boris Vian escreve de Partre
‘(…) tomam chá de algas e álcoois doces que
os dispensa de pensar naquilo que escrevem. (…) já não é preciso eliminar todo o supérfluo, mistura-se um pouco de
ideias com um pouco de supérfluo, e dilui-se. As pessoas absorvem estas coisas
mais facilmente; as mulheres, sobretudo, não gostam do que é puro.”