03/04/2020

Os pedigolhos

São mais os motivos para me conter em apreciações do que o contrário à excepção da componente informativa são inúmeras as razões para fugir à comunicação social e mais à desenfreada didascália (sem aspas) que por aí vai.
Facto é que, nestas ocasiões, cresce o voluntariado do bitaite. E ouvem-se/lêem-se por todo o lado as maiores absurdezes. É claro que a ‘culpa’ não é toda dos que andam de braços no ar para debitarem pitacos nas tv’s. São tão inescrupulosos os profissionais da comunicação que, amiúde, demonstram não possuírem sequer senso crítico (ou se o têm, obedecem aos interesses das redacções, …) como são a miríade de alvitreiros.
Nestas ocasiões desponta um espécime específico: os pedigolhos. Daqui em frente será um fartote!

Um Bobone ‘qualquer-coisa-dos-comerciantes’ diz-nos que há ‘micro e pequenas’ empresas que, em Março, “já não conseguiram pagar ordenados”.

Senhor Bobone ‘qualquer-coisa-dos-comerciantes’
Essas, em tese, quanto mais depressa desaparecerem do mercado, melhor! Porque se em Março de 2020 não pagaram aos colaboradores, em Abril e nos meses seguintes andariam a ferrar calotes ao mercado.

28/03/2020

As fragâncias da inópia

Um político está sempre capaz de pronunciar qualquer estupidez e, no caso em apreço, Wopke Hoekstra, ministro das Finanças da Holanda, acrescentou-lhe um deplorável sentido de oportunidade. Realizo que, horas a ouvir jeremiadas de relapsos legitimados por moles ociosas e negligentes, serão provação pesada embora a esse tormento, se submete somente quem se voluntaria.

De facto são dois, os infortúnios: i) a ausência de jeito do dignitário holandês e ii) a inércia e o desperdício de tempo para, antes da eclosão da pandemia viral e da multíplice crise, fazer exigências quer aos parceiros quer aos organismos europeus.

Costa tomou as dores de Espanha e Itália; encanitou-se — Pudera! Chamamos egoísta a quem não se sacrifica ao nosso egoísmo; Como não?! Se os indivíduos tal como as nações têm virtudes distintas e defeitos idênticos mormente no que concerne ao património comum constituído pela sordície as nações portam-se com decência se as circunstâncias não permitirem outra coisa.
Quando, assim, não foi? Por que carga d’água teria de ser diferente, agora?
Atitude dissímil é que seria notícia. E, dependendo do intuito, quem esquissa ou alinhava as suas concepções com lirismo é cretino ou patife.

António Costa conseguiu com a inconsequente bravata — o que se conseguir dever-se-á, naturalmente, ao que a França, Itália e Espanha representam e ao(s) peso(s) específico(s) que possuem, e nunca à atrabílis do ‘primeiro-luso’— inflar os egos lusos, e pô-los a aclamá-lo.
É um arquétipo a diferença entre sobriedade analítica, a ponderação opinativa designadamente no El Pais, El Mundo, Expansion, assim como a contenção de Sanchez e Giuseppe Conti e os cheliques agastados do nosso ‘primeiro’!


Não obstante, a honestidade intelectual exige que se volte a questionar agora mais ponderosamente do que na designada ‘crise das dívidas soberanas’ em 2010
Para que serve a União Europeia, afinal?         

23/02/2020

Tautologia ‘pictórica’ (1)


Há que conseguir descrever desapaixonadamente a génese para melhor se compreender o ‘mistério’. Cingimo-nos às funções, e nada aprendemos sobre o mecanismo. Como explicitou Helmut Wiesenthal ‘sobrevivem os sistemas que são capazes de aprender e estão dispostos a tal’. Se a sociedade estivesse capacitada para aprender  e está  e, simultaneamente, se se dispusesse à aprendizagem as quatro últimas décadas provam até ao fastio que não quis/quer sobrevivia.
O que não aprendemos de forma voluntária, aprenderemos por imposição. Tarda, mas não desaparece. E se os efeitos/consequências mais cedo não chegam tal fica a dever-se à inexistência ou indisponibilidade de «escravos da moral». À lupa, não há escravos da moral. O que prevalece na ‘sociedade civil’ são as redes de malfeitores e bandidos (sem aspas) politicamente enquadrados por súcias partidárias cuja preocupação, primeira, é amojar os úberes à ‘leiteira’.

Com a maior cara-de-pau respondeu o Presidente da República, à missiva dos generais, imputando responsabilidades à ‘apatia da sociedade’, pior, à generalizada ‘insensibilidade e lassidão’. A figura desmerece-me mais do que o comentário seguinte
— “Isto” está muito acima da canópia de vulgaridades com que apascenta o gado; no melhor traço da escola «a culpa/responsabilidade é dos outros» é o topo da escusação.

― • —

     (1) por desapreço

Da obra, li algures que é expressão racista. É um aborrecimento! Realmente estamos imersos numa ‘cultura histérica’ (Lídia Jorge). Que seja! Não deixa de poder arguir-se que, na escala da evolução, as galinhas são muito mais estúpidas do que quaisquer símios. Bandsky podia ter vedetizado galinhas. Ter-lhe-á porventura ocorrido a ideia de as galinhas sendo aladas além de desassisadas, poderiam instigar a imaginação dos contemplativos, críticos, ou seja, levá-los a supor anjinhos. Não são: nem as galinhas nem os figurados/representados.

09/02/2020

Ventura não é venturança

Andou por aí em forma de rumor, mas agora está confirmado em 2021, André Ventura será candidato presidencial. É, pelo menos, a reverificação de que 1 – entrou para o ‘meio’ e desconhece o ‘meio’ e 2 ‒ se tem assessoria, é mal aconselhado.
Candidatando-se logrará de uma tacada 1 não ser eleito (de isso não virá mal ao rossio) e 2 arruinar o partido que lhe serviu de escadote (só potenciará a mole de ludibriados).
Suponhamos que, sim, André Ventura mercê do alinhamento dos astros e da unanimidade das parcas é eleito André Ventura é Presidente da República. Põe-se a questão: com esta Constituição, com a actual representação parlamentar, ser Presidente da República «para quê»? tanto mais que os pressupostos políticos sobre os quais se erigiu são, ou eram, em prol de uma radical mudança socio-política da sociedade.
Se o cargo presidencial fosse para algo diferente da mera representação a Constituição di-lo-ia; e não é o caso. Assim sendo o Presidente da República é, mais enfileirado ou mais desalinhado, um arengueiro.
O que sobrou de ‘palpável’ dos exercícios de Jorge Sampaio e Cavaco Silva? e sobrará de Marcelo Rebelo de Sousa? Resposta:
de Jorge Sampaio um acervo de perorações e uma ‘monumental’ biografia da autoria de José Pedro Castanheira; de Cavaco Silva uma pesada série de «Roteiros»; e de Marcelo Rebelo de Sousa sobrará algo idêntico ou menos já que, o próprio, faz questão de ‘avisar’ que não escreverá «memórias».

O texto acima é um exercício especulativo, elementar, até porque o simples facto de a criatura em epígrafe ter permanecido numa estação de televisão a poluir o espectro radio-eléctrico com a ‘dialética’ grunho-futebolística, apesar de ter sido eleito deputado e adquirido um apreciável lastro político, é esclarecedor.

Declaração de interesses
o autor não será 
 eleitor de Marcelo Rebelo de Sousa nem que Cristo desça de novo à Terra, e lho rogasse.

26/01/2020

Santo-e-senha


António Barreto, hoje, é demolidor. Os talentos de Midas da princesa do ‘novo reino do Ndongo’ são mote e o menos importante. Para mim é evidente que o que de facto conta não são os crápulas: são as ‘qualidades’ dos constituintes do meio em que o crápula vivifica mais, se vitaliza ― no caso a pusilanimidade que é feita da mesquinhez e da velhacaria face ao vizinho, da vilania dos medíocres e da subserviência dos necessitados. O «activo» do crápula, independentemente do foro ou âmbito do seu exercício, é o «passivo» imediato ou ao retardador da(s) mole(s) em que se movimentam.
Os portugueses precisam de Angola para vender mercadoria, prestar serviços, vender apartamentos de luxo, fazer obra pública e ganhar empreitadas de construção. O que os portugueses fazem em Angola, não fazem noutro sítio. Essa é a sua dependência. (…) Os últimos anos revelaram numerosas situações em que foi sempre Angola a pôr condições e Portugal a ceder. Os calendários diplomáticos e as agendas políticas entre os dois países estiveram à mercê dos interesses de Angola e dos caprichos dos seus dirigentes. As visitas de políticos, as reuniões entre Governos, a circulação de capitais e a reciprocidade das relações judiciais estiveram sempre dependentes das exigências angolanas. O ambiente em Angola é propício a fazer a vida difícil aos portugueses. Estes são brancos e foram colonialistas, duas características em crise. O ambiente em Portugal é propício a fazer a vida fácil aos angolanos. São ricos e têm dinheiro para gastar. (…) Haverá problemas? Talvez. Mas o pior é a certeza de que não temos Governo, polícias, juízes e bancos à altura.
Ora uns e outros sabem ou presumem ― não interessa ― o que são e não são. É desnecessário dizê-lo. Aliás acho que, inúmeras vezes, é contraproducente. Todos, individual ou colectivamente considerados, têm um preço. Quem faz o preço não é o vendedor; é o comprador. Pois paguem! Quem não está capaz de ser amo, é criado.