António Barreto, hoje, é demolidor. Os
talentos de Midas da princesa do ‘novo reino do Ndongo’ são mote e o menos
importante. Para mim é evidente que o que de facto conta não são os crápulas: são
as ‘qualidades’ dos constituintes do meio em que o crápula vivifica mais, se vitaliza
― no caso a pusilanimidade que é feita da mesquinhez e da velhacaria face
ao vizinho, da vilania dos medíocres e da subserviência dos necessitados. O «activo» do crápula, independentemente do foro ou
âmbito do seu exercício, é o «passivo» imediato ou ao retardador da(s) mole(s) em que se movimentam.
“Os portugueses precisam de Angola para vender mercadoria, prestar serviços, vender apartamentos de luxo, fazer obra pública e ganhar empreitadas de construção. O que os portugueses fazem em Angola, não fazem noutro sítio. Essa é a sua dependência. (…) Os últimos anos revelaram numerosas situações em que foi sempre Angola a pôr condições e Portugal a ceder. Os calendários diplomáticos e as agendas políticas entre os dois países estiveram à mercê dos interesses de Angola e dos caprichos dos seus dirigentes. As visitas de políticos, as reuniões entre Governos, a circulação de capitais e a reciprocidade das relações judiciais estiveram sempre dependentes das exigências angolanas. O ambiente em Angola é propício a fazer a vida difícil aos portugueses. Estes são brancos e foram colonialistas, duas características em crise. O ambiente em Portugal é propício a fazer a vida fácil aos angolanos. São ricos e têm dinheiro para gastar. (…) Haverá problemas? Talvez. Mas o pior é a certeza de que não temos Governo, polícias, juízes e bancos à altura.”
Ora uns e outros sabem ou presumem ― não
interessa ― o que são e não são. É desnecessário dizê-lo. Aliás acho que,
inúmeras vezes, é contraproducente. Todos, individual ou colectivamente considerados,
têm um preço. Quem faz o preço não é o vendedor; é o comprador. Pois paguem! Quem
não está capaz de ser amo, é criado.