Gilles
Lipovetsky * esteve cá e um jornal pô-lo a discretear em redor dos corolários do seu último livro, A Sagração da
Autenticidade, no qual nada há de inédito à excepção de alterações de 'consciências colectivas', ponderáveis e factuais, que a minha inteligência e as minhas percepções impedem vislumbrar.
Quem antes detectou e explicou o individualismo contemporâneo em A
era do Vazio e Tempos Hipermodernos, oco em A Era do Vazio,
efémero em O Império do Efémero e Plaire et Toucher - essai sur la
société de la séduction, principal componente da mundialização do ocidente
ou ocidentalização do mundo em L’Occident mondialisé, fica ‘manietado’ –
não vislumbro, mas .. posso estar equivocado ou saber pouco, mas à mole vazia,
seduzida por uma felicidade, paradoxal, fascinada pelo efémero, etc… nada faz
prova de uma alteração qualitativa. Nem uma mais aparente que real consciência ambiental,
colectiva – para já e por enquanto parece-me serem poucos os que, com impacto
expresso e significativo, abdicaram de parcela de comodismo, consumismo, … e por
aí vai em favor do 'calhau gravitante' e benefício do futuro da humanidade, com
excepção de um charivari politicamente orientado. Ora, disto à
consciencialização vai uma regeneração - que, para Lipovetsky é já mensurável (ler excerto) mas, para mim, permanece um desiderato. Em que mundo viverá ele?! - que suscita um universo de dúvidas e
muito poucas certezas.
" (...) O autêntico passou a ser o new cool. (...) a autenticidade exibe todo o seu esplendor, afirmando-se como um objecto de desejo de massas. (...) Cada vez mais, a comunicação das empresas procura denunciar a insignificância espetacular, jurando não fazer greenwashing ou socialwashing. Sai a ganhar aquele que for mais honesto, mais autêntico: trata-se, em todos os quadrantes, de promover as «verdadeiras» necessidades e valores (...) Depois do «chique radical», hoje em dia, exige-se autenticidade em tudo: nos pratos, nos locais que se visitam, em nossa casa, em nós, na educação, no universo das marcas comerciais, na liderança das empresas, na vida política e religiosa. E, acima de tudo, mais do que nunca, na vida pessoal, familiar, sexual, profissional. (...) Ao contrário dos momentos anteriores, a nova fase de modernidade em que entrámos promove a consagração social da ética da autenticidade individual. (...)"
Homem de Fé! Não me importava de coabitar a bolha dele.
* pensador que sigo com muito interesse