17/11/2019

Pessoas, naturalmente! Cidadãos, nem por isso.


Há tempos publiquei um pequeno texto onde acusava a factual escassez de cidadãos. Às pessoas, o Estado leia-se, a sociedade, à nascença, atribui-lhes uma identificação designada «Cartão de Cidadão». E um Número de Identificação Fiscal! Ora, isso não basta para alguém se considerar um cidadão. O facto de alguém ser nomeado «cidadão» não o faz cidadão.
A cidadania obriga a contrapartes, que inconvenientemente dizem respeito a cada qual. Uma das contrapartes é nem mais nem menos a forma servil como nos deixamos ser tomados quer pelos aparelhos do Estado quer por burocratas e dignitários que, de forma efectiva ou interina, os compõem; outra é a forma bovina com que somos colhidos quotidianamente pelo bom noticiário que alguma comunicação social mais agenciosa nos serve; outra é a tolerância que há para os avanços cada vez mais explícitos nos trilhos da cretinização;…
Me parece que são dispensáveis exemplos. São diários, consecutivos e sistemáticos, e de toda a índole e para todos os gostos!
O assentimento, considerado individual ou colectivamente, qualificam-nos (sempre) mais a nós – pretensos cidadãos ‒ do que diz ‘deles’ ‒ aqueloutros a quem nós pagamos e/ou confiamos (elegendo-os) para tratar dos assuntos da sociedade.
Amiúde se ouve da boca de gente mui respeitosa (ou que assim se julga)
– as generalizações etc e tal
Aí vai uma fundamentadíssima generalização
― Recebemos em troca o que desejamos e merecemos!

Vem a propósito a entrevista do geógrafo, Álvaro Domingues

Nota: todos os presidentes da República – Eanes, Soares, Sampaio, Cavaco ‒ tiveram faltas e falhas neste domínio. Mas nenhum contribuiu tanto para a cretinização da sociedade quanto Marcelo Rebelo de Sousa.