Há assuntos sobre os quais – parece-me
– o maior proveito é emudecer. Por mais que se tente, não se sai sem os dedos
borrados.
Da presente greve dos
motoristas de pesados de transporte de matérias perigosas ― os que resolveram
mandar os mercenários da UGT e os turiferários da CGTP dar uma volta ao bilhar
grande — começa-se por onde, por quem?
― pelos
ratos que agora se queixam dos parcos salários com que são remunerados há
dezenas de anos? Por onde andaram?
― pelas ratazanas
representadas pela ANTRAM (Associação Nacional de Transportadores Públicos
Rodoviários de Mercadorias) que, tal-qualmente os motoristas, se especializaram numa ladainha semelhante embora de sentido oposto?
— na
inexistência de brio e zelo da Autoridade Tributária que deixa passar incólume
o roubo à sociedade com que os industriais nos mimam há décadas?
― no relaxe
dos serviços fiscalizadores da Segurança Social que mimeticamente procedem da
mesma forma que a AT?
— na
irresponsabilidade com que o governo põe, de um dia para o outro, militares das
Forças Armadas e da GNR a transportar dezenas de milhar de litros de combustível e/ou metros cúbicos de gás?
― a
cobardia que impede os camundongos da comunicação social a confrontar os
membros do governo directamente envolvidos com perguntas simples como
– em caso de sinistro, como e quem indemniza?
— a
impreparação que constrange os camundongos da comunicação social a dirigirem-se
à APS (Associação Portuguesa de Seguradores) e solicitar esclarecimentos sobre
as «Condições Particulares das Apólices de Seguro de Frota» e das «Condições
Particulares das Apólices de Acidentes de Trabalho»
― apreciar o comportamento da rataria que nos
sindicatos (CGTP e UGT) não chiam por estarem de férias ou dos ratos dos partidos
defensores do «povo trabalhador» que, por não lhes interessar, tacticamente não
guincham?
— apreciar
os pigarreios hipócritas do Presidente da República?
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Para mergulhar num bueiro, e nele ficar a chapinhar, pegava
no «Germinal», «Ratos e homens» ou n’ «As
vinhas da Ira». Sucede que fui apanhado em sentido oposto, e não faço tenção
de inverter a marcha – … enquanto na tv correm os do Liverpool e do Chelsea leio,
entre outros, «Porque é que o bom Deus quer que haja pobres», «Um conto sobre a
morte e o epílogo de uma mão desconhecida» e «O rei Bohusch» de Rainer Maria Rilke.