— Boudoir ―
No dia 29 de Outubro de 1946, cinco homens reúnem-se na casa de André Malraux, em Paris, perto do Bois de Bologne. São eles o próprio
Malraux, o húngaro Arthur Koestler, célebre pelo seu romance «O Zero e o Infinito», Manés Sperber, escritor
e psicólogo judeu, amigo de Koestler, Jean-Paul Sartre e Albert Camus.
O motivo é a preocupação,
comum, com a situação política – os EUA venceram a guerra e possuem a bomba
atómica; a URSS de Estaline está prestes a possuí-la, e os direitos humanos têm
de ser defendidos por todo o lado.
Os intelectuais devem, têm a
obrigação de tomar a iniciativa. Em França, a Liga dos Direitos Humanos está demasiado
ligada ao Partido Comunista Francês e este enfeudado à União Soviética.
Não será de criar uma
organização de Direitos Humanos com um âmbito internacional, nova, e mais independente?
— Galeria ―
•Arthur Koestler, inicia o debate
«É essencial que seja formado um código mínimo
de moral política. E nós, intelectuais, temos de deixar de propor todo o género
de argumentos capciosos. Recentemente disse a um entrevistador que, pelas
mesmas razões, odiava tanto o estalinismo quanto o nazismo. Nós, escritores, traímos a História quando
não apresentamos queixas quando deveriam ser apresentadas. …seremos condenados por conspiração de
silêncio.»
•Malraux, que à semelhança de Camus envergara esse traje, define
a sua posição
– Há que fazer, apoiar,
qualquer coisa,…organizações que nada tenham a ver com indivíduos que crêem na ‘verdade’
do «proletariado».
•Camus, interpela-os
«Não acham que somos todos responsáveis pela
falta de valores?»
E aduz
«Nós, que vimos do pensamento de
Nietzsche, do niilismo ou do materialismo
histórico, se declarássemos abertamente que estávamos errados, que os valores
morais existem e que doravante faremos o necessário para os clarificar e
estabelecer, não acham que seria o princípio de alguma esperança?»
•Andrajo intelectual/canalha/’coisa’
abjecta –Jean-Paul Sartre
«Pensei um pouco na questão. A ‘vossa’
organização acabará por se virar contra os comunistas franceses, e não posso,
nem o farei, abandonar os que protegem os interesses dos oprimidos. Não posso
virar os meus valores morais exclusivamente contra a URSS, embora seja verdade
a deportação de milhões de pessoas.»