Passam os dias, as semanas, entre notas
relacionadas com a vida política e as que me interessam na maioria das vezes por
inércia, e noutras por opção, permanecem como o ataúde de Maomé. É a vitória da prevalente sofística, que envelhece
durante o dia para rejuvenescer na manhã seguinte, alimentada pelo sangue dos
émulos que nela vão desembarcando. O critério é «a união dos muitos contra os
poucos» ‒ o paraíso da
dialéctica fácil, o éden da
silogística, da inversão, da confusão e da mistificação; não é a inteligência,
é a bruteza.
A sofística é, sempre foi, o atoleiro feraz da
incultura; e a contemporânea organizada do modo que mais lhe convém ou seja, desorganizada
[os palermas doutos em termodinâmica esfregam o ego, satisfeitos, designando-a «entrópica»]
‒ é a comunicação intelectualóide circunscrita
a um sistema de trincheiras em que, cada vez mais, as hordas passeiam a sua
suficiência pela «terra de ninguém».
É impensável lutar contra a sofística porque
fazê-lo é disponibilizar-se para desfiar as meadas que Penélope enleou. O trágico
— é o meu convencimento — é que uma pessoa inteligente não luta contra isso
porque de duas, uma: ou colabora e entra no jogo, ou se prepara para a
exoneração, voluntária. É o enésimo triunfo da sofística ‒ em relação aos transactos, o presente é irrestrito
e amplíssimo.
Um dia destes para um amigo, em nota
reservada, fiz minhas as palavras de Wittgenstein para Paul Engelmann (1925) — “Não me sinto bem, e não é porque me incomode
a minha porcaria, mas é por estar no interior da porcaria.”
É que fazer aterragens suportáveis no solo da
factualidade exige que se apreendam as ‘coisas’ tal como elas são e se realizem
os inevitáveis actos vitais sem afundar ainda mais na porcaria. É o preço a
suportar por não ‘descer das áridas
alturas da inteligência para os verdes vales da estupidez.’ ‒ é muito difícil e desmerece o ‘custo da
oportunidade’.
Não há exemplo mais eloquente escrevo mesmo, magníloquo,
do que a «rede social» chame-se ela Facebook, Twitter, Instagram, … Eis um ‒ de milhões ‒ brevíssimo exemplo, fresquinho, entre ‘um senhor que
desconheço, comum, mas não parvo’ e uma individualidade ‘cabeça-de-cartaz,
muito frequentado’
O comum — O socialismo acaba quando se acaba
o dinheiro, e neste caso isso está prestes a acontecer.
Cabeça-de-cartaz — Isso é a sua
perspectiva, naturalmente aplicável às sociedades capitalistas, que é o
nosso caso!
O comum — Eu tenho um defeito, escrevo sempre a minha perspectiva.
[Obs.:
Não pasme, a ‘cabeça-de-cartaz’ não ficou envergonhado; a opulenta e fecunda
pulsão argumentativa não quedou por isso]