26/01/2020

Santo-e-senha


António Barreto, hoje, é demolidor. Os talentos de Midas da princesa do ‘novo reino do Ndongo’ são mote e o menos importante. Para mim é evidente que o que de facto conta não são os crápulas: são as ‘qualidades’ dos constituintes do meio em que o crápula vivifica mais, se vitaliza ― no caso a pusilanimidade que é feita da mesquinhez e da velhacaria face ao vizinho, da vilania dos medíocres e da subserviência dos necessitados. O «activo» do crápula, independentemente do foro ou âmbito do seu exercício, é o «passivo» imediato ou ao retardador da(s) mole(s) em que se movimentam.
Os portugueses precisam de Angola para vender mercadoria, prestar serviços, vender apartamentos de luxo, fazer obra pública e ganhar empreitadas de construção. O que os portugueses fazem em Angola, não fazem noutro sítio. Essa é a sua dependência. (…) Os últimos anos revelaram numerosas situações em que foi sempre Angola a pôr condições e Portugal a ceder. Os calendários diplomáticos e as agendas políticas entre os dois países estiveram à mercê dos interesses de Angola e dos caprichos dos seus dirigentes. As visitas de políticos, as reuniões entre Governos, a circulação de capitais e a reciprocidade das relações judiciais estiveram sempre dependentes das exigências angolanas. O ambiente em Angola é propício a fazer a vida difícil aos portugueses. Estes são brancos e foram colonialistas, duas características em crise. O ambiente em Portugal é propício a fazer a vida fácil aos angolanos. São ricos e têm dinheiro para gastar. (…) Haverá problemas? Talvez. Mas o pior é a certeza de que não temos Governo, polícias, juízes e bancos à altura.
Ora uns e outros sabem ou presumem ― não interessa ― o que são e não são. É desnecessário dizê-lo. Aliás acho que, inúmeras vezes, é contraproducente. Todos, individual ou colectivamente considerados, têm um preço. Quem faz o preço não é o vendedor; é o comprador. Pois paguem! Quem não está capaz de ser amo, é criado.

25/01/2020

Do contubérnio e das regras de trânsito

Estas já ninguém lhas tira. Mas há conforto, presumo. Encontrá-lo-á junto do inquilino do palácio de Belém, por exemplo ― há mais, mas serão menos representativos e, por consequência, menos influentes.
Futuramente e no que tange ao procedimento profissional, terá de sopesar apenas a percentagem de melanócitos do/a prevaricador/a – o resto será tudo igual.
Se o prevaricador ― quem viaja sem bilhete ou sem disposição para o adquirir ― denotar sinais de que 1 – não é 'caucasiano' * ou 2 – sendo 'caucasiano', não seja proveniente de zonas ou bairros de 'gente desvalida' leia-se, especialmente protegida ― caso dos romani/zíngaros ―, o motorista ou
i) cumpre, chama a autoridade e, mais tarde, lhe partem a tola ou
ii) incumpre, e sujeita-se a ser castigado na carteira.

Da dificuldade optativa neste estreito campo de opções, comece por agradecer à sociedade em geral – se é o caso, verbero e lamento o sucedido; mas se tiver de (agrade-lhe ou não) imputar responsabilidades a si próprio (além das que assaque aos demais) ― verbero mas não lamento. É bem feito!

* não seja caucasiano, mas seja 'afro'. Que conste, com 'vermelhos' e 'amarelos', estas 'insurgências'/'indignações'/'perseguições' e outras maldades não preenchem agendas noticiosas.