12/12/2020

Está perto de perdoar, quem lágrimas escuta

O ‘institucionalizado’ histrião da IIIª República, Manuel Alegre, sugeriu «mais poesia» como forma de esconjuro por um lado e, por outro, de revigoramento colectivo. Ora, a ministra ‒ quando necessitávamos de a saber, num acto de rebeldia e afronta ao obstáculo, a cantarolar o hino da CGTP ‒ chorou. Fruto da paixão, decerto ‒ supondo (como eu suponho) que ‘paixão significa sofrimento’ (1) . Cedeu ao sofrimento! A suposta (e presumida) amazona é uma fraude ‒ é uma temerosa ‘boneca’. Não sendo isso (é precisamente o que penso) a lagriminha, o plangor da ministra é ‘coisa’ circunscrita entre duas baias
a) a determinada por Fernando Pessoa — a Martinha ‘finge a dor que deveras sente’ —, e,  
b) a prescrita por Boris Vian ‘(…) tomam chá de algas e álcoois doces que os dispensa de pensar (…) mistura-se um pouco de ideias com um pouco de supérfluo, e dilui-se. As pessoas absorvem estas coisas mais facilmente; as mulheres, sobretudo, não gostam do que é puro.”

 (1) Denis de Rougemont

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Para mim é tão óbvio que vale mais um módico desta ‘ronha’ do que uma biblioteca de fátuos tratados como é óbvio que o derradeiro recurso dos medíocres e dos pulhas é a apelação à pieguice.
Para mim também é claro que contam sempre com quem nunca aprenderá o que seja porque a sua existência (com ou sem network) se circunscreve (quaisquer que sejam as circunstâncias) à satisfação das suas necessidades básicas e primárias. Sobre estes discreteou Eduardo Galeano
— ‘Os ignorantes não fazem história ‒ acolhem-na; são o coro do herói.’
“São suspeitas as lágrimas dos ratos nos enterros dos gatos.”