23/01/2022

A dogmática da Abrilíada

Na CNN perorava a escritora, Dulce Maria Cardoso, que, pelo que me é dado saber, atingiu o ápice literário com um livro, O Retorno, que espreme a casca do limão da descolonização. 
Afirmou a senhora de forma a infundir respeito 
Portugal partiu com um atraso muito grande (…) nós, país, fizemos um longo, longo caminho da revolução de Abril até agora (…) olhando para este país… é um salto imenso”(sic)

Esta gente, sempre que se lhe apresenta uma ocasião, não a despediça e aproveita para dizer ‘coisas’ de forma enxuta, ou seja, sem que haja quem lhes interrompa a jactância e os confronte com a exigência de justificação quer qualitativa quer quantitativa.
No caso a empáfia da senhora é lavrada com que cotejadores? Compara o quê, com quem?
Questiono porque a verdade só confirma os termos se, e apenas se, a comparação fôr com duas dúzias de países da África central e austral, dúzia e meia da América do Sul e Central,…
                                                                         〰
          1 - “Portugal partiu com um atraso muito grande
Com atraso semelhante partiu a Espanha e com atrasos bem piores partiram praticamente todos os que estavam presos na ‘malha democrática’ ou ‘popular democrática’ como a Polónia, república checa, Eslováquia, Moldávia, Lituânia, Bulgária, Roménia,…
         2 - “fizemos um longo, longo caminho da revolução de Abril até agora
No caso em apreço o «longo» funciona na inversa do pretendido: é que muitos dos outros fizeram, até prova em contrário, mais e melhor em menos tempo.
        3 – “é um salto imenso
Admitindo que foi. Então como se adjectiva o que foi dado pelos forasteiros? Colossais?!


17/01/2022

Da improbidade

Fazia menção de remeter à reclusão até à apuração final da decisão do eleitorado, a apreciação às peripécias partidárias. É impossível — e, a impossibilidade, não é por achar que seja devedor de solidariedade ou que tenha ser recíproco para com os meus concidadãos. Não devo, não tenho.
—  •  —
Quem me segue, saberá o que chamei a Fernando Teixeira dos Santos quando ele era ministro das finanças de Sócrates, o que chamei a Vieira da Silva ao tempo de Sócrates e no anterior governo de António Costa, o que chamo a António Costa, que é semelhante ao que chamo a Siza Vieira e a outros tantos (ocupem eles o lugar que ocuparem) e que não se coíbam de “cagar-se” — da linguagem informal da 2ª figura deste Estado, Ferro Rodrigues — para a verdade, e assim vigarizar as pessoas. Não o fazem por incompetência ‒ fazem-no de perfeita consciência e convictamente.
Quem me segue, saberá que nunca fiz do povo o desgraçado da história porque, o povo anda há quarenta e nove repito, quarenta e nove anos, a desgraçar-se. E quem se desgraça por convicção merece o castigo. Dizem-me: — São enganados. Não é verdade! Tanto não é que os aldrabões vigarizam por saberem de antemão que, se não forem vigaristas, perdem. A constatação é uma constatação, e não serve de atenuante. Facto é que, entre nós, mais fácil é ser incensado um trafulha, relapso, do que alguém comprovadamente equivocado. Ora, no máximo, poder-se-á exclamar com um daqueles remoques que servem, simultaneamente, aos contrários — ‘estão bem uns para os outros’; ‘merecem-se’.

Sem surpresa, entrou na campanha eleitoral o dissentimento entre as intenções da direita diabólica ‒ PSD, CDS, IL ‒ porque (
denunciam os de ‘sensibilidade social à flor da pele’) o que pretendem é privatizar o ‘negócio’ e a ‘tropa progressista’ que vive angustiada com a vida e o destino do povo ‒ PS, PCP, BE, Livre, PAN, …‒ sobre a vida e o caminho, o presente e o futuro da Segurança Social *.

O comportamento da generalidade dos órgãos da comunicação social, de tão confrangedora, chega a ser revoltante. Também essa tem sido/é a que desejamos.


Os exemplos que deixo (de dezenas, disponíveis) foram colhidos de forma aleatória e sob um critério, único ‒ comprovar que, perante a verdade, se comportam e verbalizam como patifes, ipsis letteris.
É exactamente como escreveu Euclides da Cunha — Não, não é a ocasião que faz o ladrão; o ladrão existe independentemente das ocasiões. Também não é menos verdade que, quando se deixa de lutar pela posse da propriedade privada, resta lutar pela fruição da propriedade colectiva.






O merecimento dessa 'tropa' é ser defenestrada!


* no passado recente e presentemente, à direita e à esquerda, discreteia-se sobre a SS no pressuposto de uma 'sustentabilidade', há muito, inexistente. Até ao presente a 'sustentabilidade melhor, a liquidez é garantida por transferências anuais dos OE.

14/01/2022

Os ferreiros deserdados, por Urano, que nos calharam

A noite transacta foi a tal — a do combate entre dois notáveis cíclopes.
Não é por caso que os denomino por cíclopes em vez de titãs ou simplesmente gigantes — no nosso meio, gigante tem de ser referido sempre entre aspas e, para ser um afortunado, não carece de um segundo olho que lhe garanta a estereopsia, quer dizer, que lhes propicie perscrutar em profundidade; no nosso meio, o que vá além da bidimensionalidade entra sem tergiversações no domínio da complexidade que, amiúde, é apenas e só para predestinados, sobredotados ou ornados.

espécime tipo

Facto é que, primeiro, não assisti à contenda nenhum deles possui o que seja do meu interesse; segundo, optei por entrar somente para assistir às prelecções dos exegetas, hermeneutas, especialistas em linguagem corporal, politólogos,… enfim do melhor que há, do seio da geração predecessora à «geração mais bem» (devia ser «melhor», mas …) «preparada de sempre» mesclada de alguns preeminentes dos «mais bem», convidados pelo canal de televisão.
Foi-me ofertada a ocasião de presenciar o que, para mim, sem apelo nem agravo, justifica o parágrafo anterior.           

Sondagem CNN
57% dos portugueses consideram a TAP importante desde que não tenham de a pagar

Esta inferência contém um mundo! Adjectivar a inferência com menos do que extraordinária é uma concessão à estupidez, ou melhor, à cretinice por mais legítima e vulgar que esta seja – é que o estúpido não tem de ser cretino, mas o cretino é inapelavelmente um estúpido ciente, galhardo e brioso.
Escuso-me a lucubrar, sequer a conjecturar, quer sobre a inferência quer sobre quaisquer das premissas porque isso, sim, seria pretexto para um tratado a que não me afoito.
Este blog nasceu sob a epígrafe 
A prezada erudição tem seus termos, e mais se deve usar para discorrer e inventar novas coisas que para acomodar ao nosso propósito as que já estão ditas
de D. Francisco Manuel de Melo, e assim fenecerá. D. Francisco Manuel de Melo vive!