10/03/2022

As ovelhas de Panurgo

Ontem, certa comunicação social destacou as acusações de Pep Guardiola aos políticos do mundo ocidental quanto à invasão da Ucrânia; hoje num jornal e num canal de televisão são destacadas acusações de José Milhazes de semelhante índole – “a condenação da comunidade internacional à Rússia foi tardia e devia ter acontecido, em 2004, no início de uma série de acontecimentos que originaram o actual conflito”. 

Acusações ― todas e sem qualquer restrição ― que eu subscrevo. Acusações que são merecidas, não devem ser esquecidas, menos ainda poderão ser omitidas e, tombe o barco para onde tombar, jamais silenciadas. Existe, todavia, o sentido de oportunidade que, em ocasiões de grande tremideira, objectivamente servem os desígnios do inimigo. A ocasião para o ‘dedinho acusador’ não é este. Toda e qualquer brecha ― qualquer que seja a sua natureza e/ou âmbito ― é uma dádiva. É por isso que Panurgo * espera para levar a sua adiante. Neste como em quaisquer outros acontecimentos terá de haver consciência, por parte de quem profere sentenças, de que nada de essencial mudou. Até porque para se levar a elucubração ao ponto que deve ser levada a responsabilidade, depois de dever ser assacada aos políticos, não pode deixar nunca desresponsabilizar os respectivos rebanhos. No (nosso) mundo ‘livre’, as castas políticas são sufragadas livremente e ciclicamente – os próprios, os partidos que os sustentam, as propostas que fazem, …

Não é plausível que as ovelhas modifiquem a sua natureza e comportamento mas, mesmo assim, e, por mais que elas balam, não há forma de as isentar do selo de perpetradoras.

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* Desconhecem?! Leiam François Rabelais. 
Panurgo, para se vingar de um desonesto vendedor de ovelhas, comprou-lhe uma e, em alto mar, atirou-a borda fora. Instintivamente o rebanho seguiu-a.

05/03/2022

A ‘sociopatia’ de Putin

Desde a transacta quinta-feira (03.03.2022), e recompostos da ‘concussão emotiva’ inicial, passou a constituir uma espécie de doutrina perceptiva ― chancelada pelos nossos doutos especialistas da geoestratégia, das relações internacionais e da diplomacia ― uma mais do que verosímil sociopatia de Putin. Que ‒ atrevo-me apreciar ‒ é mais comum do que parece no seio da elite russa, e que portam no bojo “desde” e “na” sequência do desabamento do Muro.

Dos intentos com que essa trupe de esclarecidos, à excepção de uns poucos ― naturalmente os menos requisitados (ou menos disponíveis?) ―, se propõe a divagações desse quilate é um desperdício, apreciá-los. O certo é que ― nesta matéria como noutras de magnitude, importância e consequências semelhantes ― omitem (em benefício próprio) o que fecham nas gavetas *.

No que concerne à sociopatia de Putin e/ou da quadrilha adicta, e sem mais delongas, deixo, para proveito de quem quiser, excertos (elucidativos) de um livro ― editado em 2012, e que o «Instituto de Altos Estudos em Geopolítica e Ciências Auxiliares» (IAEGCA) editou em português, em 2016 ― de um mentor. Conclua por si.
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* atitude que resulta por saberem que somos uma comunidade de calões que se satisfaz com o palpite harmónico, ou não satisfaz se o palpite é divergente. Consoante as afinidades.

01/03/2022

A populaça só serve para mijar para o pavimento?

A mais ansiada notícia, da guerra resultante da agressão e invasão da Federação Russa e Bielorrúsia à Ucrânia, é/são as que possuam referências a um eventual ― se efectivo, melhor ― «putsch» em Moscovo ou algo de natureza e objectivo similar; que contenha o germe da insurgência. Por isso, lamento ‒ dando crédito às notícias ‒ que, seis dias depois, os russos detidos pelas autoridades não cheguem à dezena de milhar.
"Quem não ousa olhar fixamente o governo é um fraco" escreveu Voltaire. Quantos mais cadáveres de russos e ucranianos valerão as vidas de Putin, LavrovGerasimov?