01/12/2020

No decesso de Eduardo Lourenço


Mais do que louvaminhas, há que fazer por merecer. Fazer por merecer é dar o destaque ao que do seu labor intelectual e reflexivo se deve reter para deixar(mos) de ser o que (fomos) somos e que sendo intrínseco, idiossincrático, sempre contribuiu para contínuos malogros; mais do que ‘numa luta surda, mas tenaz e incoercível’ cerzir(mos) êxitos.

Não se trata de carpir(mos) e sim de ser(mos) consequente(s) ou seja, inteligente(s). Não se trata de cantar eventuais e transactas glórias, mas verberar passados e presentes falhanços colectivos. Dispensam-se loas a alguns dos momentos maiores da sua extensa obra «O labirinto da saudade» e «O esplendor do caos». E é o momento de reter o que a intelectualidade caseira, e a patuleia por maioria de razão, sempre fez por esconder, encobrir, disfarçar, mascarar até se para coisa diversa não fôr que sirva ao menos para, como escreveu, lograr(mos) “fugir dessa imagem reles de nós mesmos”.

Perpassam na minha mente o capítulo «Somos um povo de pobres com mentalidade de ricos» em concreto os sub-capítulos i) O trabalho para o preto, ii) O tradicional grito de «pouca sorte», iii) O aparato e a aparência e iv) Portugal, uma mina para Freud… e «Do intolerável» (de uma intervenção num colóquio organizado pela Fundação Marquês de Pombal em Outubro de 1996).

Reconhecido.